Qatar: parece um oásis, mas é só uma miragem

©Danila Tkachenko
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Pasmado perante o contraste entre o contemporâneo e o arcaico, no Qatar, o fotógrafo russo Danila Tkachenko questiona-se se o capitalismo não será, neste contexto, uma "armadilha à identidade nacional". "Os qataris são uma sociedade de raiz ancestral que vive, actualmente, imersa no mundo da alta tecnologia. Os arranha-céus no meio do deserto são um símbolo do progresso capitalista no país e fazem-me lembrar uma miragem", explica, em entrevista ao P3, via email. A economia do emirado é baseada na exportação de petróleo e de gás natural, motivo pelo qual se tornou um dos estados mais ricos da região — e mesmo um dos mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes. Apesar da inegável riqueza do país, organizações independentes como a Freedom House ou a Amnistia Internacional continuam a detectar falhas graves ao nível do exercício de liberdade por parte dos 1,9 milhões de cidadãos e a registar vários "atropelos" dos direitos humanos. As desigualdades económicas entre os cidadãos e a exploração laboral são também evidentes — e têm ganho protagonismo, ultimamente, graças ao Campeonato Mundial de Futebol que terá lugar no Qatar em 2022, situação que a Amnistia Internacional tem vindo a denunciar, desde 2016.

O projecto Oasis foi fotografado em Agosto de 2018, há precisamente um ano, sob temperatura elevada. "Fui convidado pelo Qatar Museums e foram-me dadas todas as condições para poder trabalhar", assegura o fotógrafo. Depois de ter tido a ideia de como, graficamente, iriam ser as imagens do projecto, limitou-se a procurar, nos arredores de Doha, a capital do Qatar, o melhor local para tornar a sua visão uma realidade. Com recurso a alguns modelos — não tantos como figuram nas imagens, no entanto, graças a manipulação digital —, Danila Tkachenko não teve dificuldade em conceber as silenciosas imagens de Oasis, que se destacam pelo minimalismo e pela cuidada composição. "Um oásis é uma ilha de bem-estar no deserto, mas pode ser apenas uma miragem", discorre. "As cidades onde vivem os qataris, vistas de longe, parecem miragens. Eu interessei-me por esta ilusão e por perceber se se adequa à realidade."

Em 2015, Danila Tkachenko partilhou com o P3 um projecto que realizou, no mesmo ano, sobre pessoas que vivem “in the wild” e que não desejam regressar.

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