Jordânia mantém o silêncio no caso da princesa Haya e do xeque do Dubai
A princesa é filha do falecido rei Hussein, que é visto no Ocidente como um dos grandes líderes da região.
A Jordânia está em silêncio sobre a batalha legal entre a princesa Haya e o seu marido, o xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoumo, governante do Dubai. O rei Abdullah procura controlar as consequências que possam advir do caso que envolve a sua meia-irmã e um aliado vital do Golfo. A Reuters avança que os meios de comunicação jordanos não mencionam a audiência em Londres, onde Haya solicitou uma “ordem de protecção forçada contra o casamento” em relação a um dos seus dois filhos.
A princesa é filha do falecido rei Hussein, que é visto no Ocidente como um dos grandes líderes da região. Num processo judicial conhecido na terça-feira, Haya também pediu ao Supremo Tribunal uma ordem de restrição com o objectivo de se proteger contra assédio ou ameaças. Contudo, não é claro sobre o alvo desta ordem. A mulher pediu ainda a custódia do filho.
Embora, os jornais nacionais não refiram o caso, os jordanos têm-se pronunciado nas redes sociais, apoiando a princesa. “Ela é filha de um rei, neta de um rei e irmã de um rei antes que existisse um país chamado Emirados”, escreveu Qusai Zreiqat, um jordano, na sua conta no Twitter, respondendo assim às críticas à princesa que chegam dos Emirados Unidos, por parte de Abdulkhaleq Abdulla, um politólogo dos Emirados que escreveu na mesma rede social: “Uma princesa sensata e respeitável de linhagem forte não foge, não rapta [os filhos], não desaparece ou mostra ingratidão, e certamente não incomoda o espírito de alguém que a amava, amava e providenciava para ela e a tratava com dignidade...”
A princesa Haya casou-se, em 2004, com o xeque de 70 anos, que também é vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, naquele que será o sexto casamento do marido, que tem mais de 20 filhos de diferentes mulheres. Em Setembro passado, a Amnistia Internacional denunciou que Sheikha Latifá, uma das filhas do xeque, de outra esposa, estaria incomunicável em local desconhecido, depois de ter fugido e ter sido obrigada a voltar ao Dubai.
A princesa Haya, 45 anos, é filha da falecida rainha Alia, uma figura popular com raízes palestinianas, que morreu num acidente de helicóptero em 1977. A princesa, que competiu em eventos equestres nas Olimpíadas de 2000, e o seu irmão, o príncipe Ali, são considerados membros carismáticos da família real.
Duas fontes jordanas, próximas da princesa, revelam que a sua decisão de travar uma batalha legal em Londres e não na Jordânia tem como intuito poupar o rei a um incidente diplomático. A Jordânia e os Emirados Árabes Unidos, ambos aliados dos EUA, estão ansiosos para mostrar que o caso não terá repercussões nas suas relações, dizem os analistas locais.
Recorde-se que o rei Abdullah visitou a capital dos Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi, poucos dias antes da audiência em Londres e foi recebido pelo príncipe herdeiro de Abu Dhabi, o xeque Mohammed bin Zayed Al Nayhan. Os jornais e a televisão jordanos estatais deram ampla cobertura à visita, mostrando o rei caminhando no tapete vermelho e sendo recebido pela guarda de honra. Foi a segunda visita de Abdullah aos Emirados Árabes Unidos no espaço de um mês.
“Foi uma mensagem muito clara dos Emirados que a nossa aliança é firme, apesar de tudo o que aconteceu e continuará forte”, disse Fares Braizat, presidente da NAMA Strategic Intelligence Solutions, uma empresa de sondagens políticas.
Juntamente com a Arábia Saudita e o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos estenderam apoio financeiro significativo para ajudar a Jordânia, altamente endividada durante anos de turbulências económicas e reviravoltas políticas na região. Muitos jordanos trabalham nos Emirados, onde os meios de comunicação costumavam cobrir o trabalho de caridade da princesa mas que, agora, não dizem uma palavra sobre o que se passa.
A Human Rights Watch considera que o caso da princesa Haya revela a situação das mulheres que tentam fugir dos Emirados Árabes Unidos, onde a lei lhes nega o direito de tomar as suas próprias decisões sobre o casamento. “A princesa Haya teve a sorte de poder deixar Dubai com os seus filhos, essa não é a realidade para muitas mulheres”, disse Rothna Begum, investigadora sobre de direitos humanos daquela organização.