A rota directa Portugal-China, estreada em 2017 e suspensa em Outubro passado, vai ser retomada pela companhia Beijing Capital Airlines (BCA) no final de Agosto com três frequências semanais, foi confirmado esta segunda-feira em cerimónia oficial de lançamento em Lisboa.
O voo, que chegou a estar planeado para ser apenas entre a capital portuguesa e Xi'an, no noroeste da China, terá paragem nesta cidade mas continuará para Pequim, tal como desejava o Governo português, que, reconheceu na cerimónia Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, desenvolveu esforços diplomáticos para conseguir a capital chinesa como destino final.
“Houve várias conversações” nesse sentido, sublinhou depois ao PÚBLICO Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal, confiante na contribuição do regresso da rota luso-chinesa no contínuo crescimento do turismo chinês para Portugal, mercado que totalizou 315 mil visitantes em 2018 e que, refere, tem tido um crescimento médio de 25 pontos percentuais nos últimos três anos. Este ano, nos primeiros cinco meses, “teve um crescimento de 17,1%”.
A nova rota não tem qualquer apoio, financeiro ou similar, do Estado português, confirmou Araújo, estando neste momento em estudo as campanhas que serão dirigidas à China e particularmente à província de Shaanxim, da qual Xi'an é capital e onde vivem mais de 37 milhões de pessoas, sendo que pelo seu aeroporto, um dos maiores e mais movimentados do país, passam mais de 44,65 milhões de passageiros. Neste momento, a campanha dirigida ao mercado chinês é digital e baseia-se no mote Joy of Life aplicado a Portugal.
Pelo lado da China, o foco na província e na sua capital, especialmente célebre por ser a “casa” do monumental Exército de Terracota, foi omnipresente ao logo de toda a cerimónia de lançamento da rota, ao ponto de Pequim quase ter sido eclipsada da mensagem. Uma comitiva de representantes de autoridades da região esforçou-se por isso, reforçando duas ligações históricas entre Xi'an e Lisboa: a primeira era o início do caminho terrestre da velha Rota da Seda, a segunda, o destino por caminho marítimo – “onde a terra começa e o mar acaba” foi o slogan da cerimónia.
Até porque a rota aérea que será agora retomada integra os planos multimilionários de investimento (no país e fora) da China sob o conceito “One Belt One Road” ("Uma Faixa, Uma Rota") – uma nova Rota da Seda para o séc. XXI, por terra, ar e mar – da qual Portugal é parceiro, tendo assinado um memorando de entendimento. “O acordo ‘One Belt One Rod’ só ficaria completo”, comentou Eurico Brilhante Dias, “com uma rota aérea” entre os dois países.
Ir à China ver o mundo a mudar
A “longa história de amizade” entre a China e Portugal foi também salientada por Choi Man Hin, presidente da Associação de Comerciantes e Industriais Luso-Chineses, no ano em que se celebram 40 anos de relações oficiais sino-portuguesas. Resumindo o retomar da rota como uma resposta às “necessidades do mercado, dos empresários e dos turistas”, este responsável considerou mesmo que Portugal pode tornar-se “a porta de entrada dos turistas chineses na Europa”. Pelo lado empresarial, a importância da rota é evidente apenas com um dado: em 2018, o investimento chinês em Portugal terá ultrapassado os 9 mil milhões de euros, um valor sublinhado pelo vice-presidente de marketing da BCA, Guo Hong – embora, por outro lado, dados recentemente divulgados pela agência Lusa, conseguidos junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, indiquem que o investimento chinês por via de atribuição de vistos gold terá recuado 28,5% (ficando-se em 120,7 milhões de euros) no primeiro semestre deste ano.
A partir de 30 de Agosto, Portugal e China passam assim a estar novamente ligados directamente por via aérea, com voos em Airbus A330 (com 252 lugares disponíveis) às quartas, sextas e domingos. A Beijing Capital Airlines não avançou expectativas face à taxa de ocupação mas, entre 2017 e 2018, esta variava entre 80 e 95%, em época baixa e alta, respectivamente. No primeiro ano de voos, a empresa registava mais de 80 mil passageiros nesta ligação.
A BCA faz parte do universo do grupo chinês HNA, que foi accionista do grupo proprietário da TAP mas alienou a sua posição em Março.