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Iris: a história de um pescador libanês salvo pela arquitectura
Adnan Ahmad al-Oud baptizou o mar de “Rei” porque outrora “o mundo era só mar”. E de tanto conviverem um com o outro, o mar “acabou por se tornar amigo” do pescador libanês de 71 anos. Mas Adnan viu o sítio onde cresceu transformar-se num espaço cheio de “edifícios massivos” — onde “as estruturas gigantes afectaram as mais pequenas”. “Algumas pessoas foram prejudicadas, outras foram beneficiadas”, conta no documentário realizado por Lea Najjar e premiado na categoria Novos Talentos do Arquiteturas Film Festival de 2019. Até que nasceu Iris, estrutura que dá nome ao filme.
A peça, da autoria do gabinete Najjar & Najjar Architects, foi erigida para “devolver os direitos aos pescadores” de Ras, em Beirute, que depois da valorização da zona passaram a ter apenas seis horas diárias de electricidade. Disseram-lhes: “Construímos prédios e fizemos emergir donos de milhões. Se vocês não gostam, podem ir embora.” A instalação de Íris, que gera electricidade nos cais que ficaram sem ela através de energia hidroeléctrica, devolveu a dignidade às comunidades que lá vivem.
O documentário de sete minutos, narrado na primeira pessoa por Adnan, conta a história do bairro, da infância, da gentrificação e convenceu o painel de jurados, que incluía Ana Tostões, Álvaro Domingues, Isabel Barbas, Gerrit Messiaen, Petra Noordkamp e Tiago Oliveira. Diz a organização em comunicado que “a beleza das imagens de Lea Najjar homenageia vidas poéticas em risco de desaparecerem”, como a “desse amante do mar, desse guardião da memória que as megalópoles estão a meter num canto, esquecendo-os” — e que Lea relembrou.
O festival premiou também, na categoria Documentário, Melting Souls, de François-Xavier Destors; na categoria Experimental destacaram-se Atlas of the Wounded Buildings, de Thadeusz Tishbein, e Landing, de Shirin Sabahi. Lá vem o Dia, de Mercês Tomaz Gomes, venceu a categoria Ficção e The Proposal, de Jill Magid, conquistou o voto do público.