Os protestos de Hong Kong pela lente de um instagrammer feito manifestante

Jeremy Cheung
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A proposta de uma lei que visava permitir a extradição de suspeitos de crimes de Hong Kong para a China continental colocou os cidadãos da região em sentido, criando uma onda de revolta que já levou milhões às ruas desde o início de Junho. Entre eles, Jeremy Cheung, mais conhecido por @rambler15 no Instagram.

O fotógrafo freelancer tem vindo a mostrar aos seus quase 70 mil seguidores nesta rede social o que se passa nas ruas. Fotografa os protestos, enquanto luta pela autonomia da região administrativa em que vive. “A maior parte dos manifestantes está a tentar salvaguardar valores-chave como liberdade de expressão e a evitar viver sob o terror do regime chinês”, conta por email Cheung, que aponta ainda uma outra razão para ter participado nas manifestações: “Exigimos respostas mais responsáveis por parte do governo local. Neste momento há uma desconfiança muito grande entre o governo e a população porque até agora as respostas têm sido inadequadas, ambíguas e dissimuladas.”

Como região semi-autónoma e sob a máxima “um país, dois sistemas”, Hong Kong tem as suas próprias leis e liberdades que os chineses da parte continental não têm – como o direito de protesto. Depois da primeira manifestação gigante a 9 de Junho, uma segunda, a 16 de Junho, levou o dobro das pessoas às ruas, desta vez para exigir também um pedido de desculpas por parte da polícia, a quem condenavam a violência desnecessária. Numa terceira ronda de protestos, mais de dois milhões de habitantes ocuparam as ruas contra a alteração da lei. Segundo o jovem, todo o espectro da sociedade de Hong Kong tem estado representado nas ruas, “desde famílias com bebés a casais de idosos”. O fotógrafo confessa que ficou “impressionado com a natureza dos cidadãos”, pois todos foram “muito ponderados e altruístas”.

O debate sobre a lei da extradição foi, entretanto, suspenso, mas os habitantes querem a anulação total do processo. O governo local já pediu desculpa ao povo de Hong Kong, mas os manifestantes continuam a exigir a demissão da chefe do governo, Carrie Lam. Cheung conta que a falta de acção por parte do governo tem levado a um “movimento de não-cooperação”, com iniciativas como um cerco “maioritariamente pacífico” da sede da polícia.

Certo é que a oposição à lei criou a mais série crise de legitimidade das autoridades locais em Hong Kong, desde que o território passou para a administração chinesa, em 1997. E, quem sabe, se os protestos não ultrapassam as fronteiras da região e não chegam mesmo ao G20, que acontece no fim-de-semana em Osaka, no Japão. Esta terça-feira, mais de mil pessoas marcharam pelas avenidas de Hong Kong para percorrer os consulados dos países que vão participar na reunião. Esteve ainda a decorrer uma campanha de crowdfunding para financiar uma campanha publicitária em jornais de grande tiragem, como o New York Times ou o Financial Times, de forma a alertar para a situação.

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