Morreu Philippe Zdar, pioneiro do ‘french touch’ e membro dos Cassius

Uma das metades dos Cassius, pioneiro da ‘vaga francesa’ nos anos 1990 com os Motorbass, foi produtor dos Phoenix, Beastie Boys, Air ou Cat Power. O quinto álbum dos Cassius é lançado esta sexta-feira. Zdar caiu de um edifício. Tinha 51 anos.

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Philippe Zdar tinha 51 anos

O músico, produtor e DJ francês Philippe Cerboneschi, mais conhecido no meio artístico apenas como Zdar, uma das metades da dupla de música electrónica Cassius e pioneiro da vaga de música gaulesa dos anos 1990 que ficou conhecida como ‘french touch’, morreu em Paris esta quarta-feira, confirmou o agente do músico à BBC. “Sofreu uma queda acidental da janela de um andar alto de um edifício parisiense”, disse Sebastien Farran, sem fornecer mais detalhes. Zdar, um dos pioneiros da música electrónica de dança em França, tinha 51 anos. 

Para além dos Cassius, criou os Motorbass ou os La Funk Mob, projectos de referência dos anos 1990, e foi responsável pela produção de inúmeros discos como o álbum de estreia dos franceses Phoenix, editado em 2000, ou mais tarde, em 2009, do longa-duração Wolfgang Amadeus Phoenix, que valeria ao grupo o Grammy de melhor álbum de música alternativa. Na sua extensa lista de produções contam-se nomes como os Beastie Boys, Air, Sébastien Tellier, Cat Power, Kindness, Lou Doillon, Franz Ferdinand, The Rapture, Hot Chip ou Kanye West.

Philippe Zdar começou a carreira como cantor e baterista em bandas de punk, tendo-se despedido do seu trabalho como empregado de mesa depois de ter visto uma fotografia dos ingleses Eurythmics a gravar num estúdio em Paris. Foi aí que decidiu que também queria “encontrar essa magia”, contou ao Le Monde numa entrevista de 2016. Em 1980 viria a conseguir trabalho num estúdio de música, tendo nessa altura operado como engenheiro de som para Serge Gainsbourg, Vanessa Paradis ou Etienne Daho. É dessa altura também a ligação que cria com MC Solaar, figura de referência do hip-hop francês, para quem mistura o seu primeiro sucesso, Bouge de lá, em 1990.

Em paralelo à sua actividade de engenheiro de som e de misturador, foi multiplicando os seus projectos artísticos na alvorada dos anos 1990, como os La Funk Mob, conectados com o hip-hop e o funk e edições na editora inglesa Mo’ Wax, e um pouco mais tarde, com os Motorbass, ao lado do músico, produtor e DJ Etienne de Crécy, outro nome essencial dessa época. Os dois viriam a lançar Pansoul, em 1996, como Motorbass, criando uma sonoridade que misturava as técnicas do hip-hop, a sensibilidade do funk na esteira de Prince e a música house e disco, numa síntese que viria a fazer escola nos anos vindouros.

Um ano mais tarde, seria o sucesso de Homework, o álbum de estreia dos Daft Punk, que faria incidir todos os olhares para França, mas foi esse álbum que captou a filosofia daquilo que viria a ficar conhecido como ‘french touch’, atribuindo uma visibilidade até aí inaudita à cultura pop francesa, através de nomes como St Germain, Air, Mr. Oizo, Alex Gopher e tantos outros, numa dinâmica que mais tarde viria a contaminar outras ideias, como aquelas que foram geradas nos anos 2000 pela editora Ed Banger dos Justice. 

Se em todas essas movimentações tinha um papel um pouco invisível, com os Cassius - que formou em 1996 com Hubert Blanc-Francard (ou Boom Bass, como é conhecido) - saltou para a ribalta, através da feitura de uma música dançante, enérgica e revitalizante, com influências do house, disco e funk americano, que nunca escapou das comparações com os Daft Punk. Uma ideia que os próprios não negavam por completo.

Em 2002, por alturas da edição do segundo álbum, Au Rêveem entrevista a Rui Portulez no PÚBLICO, Zdar confessava que a obra podia ser entendida como uma resposta aos Daft Punk. "Ouvimos o ‘Discovery’ dos Daft Punk enquanto estávamos a gravar, e isso apenas reforçou a nossa convicção de que estávamos no bom caminho”, dizia então. “Mas faríamos este álbum tal como está, de qualquer forma. Foi uma boa escala de comparação. A nossa vontade de mudança, também comum aos Daft Punk ou aos Air, deve-se ao respeito que temos pela música e por dar às pessoas algo de diferente.”

Ao longo dos anos os Cassius lançaram quatro álbuns e inúmeros máxi-singles e remisturas. A estreia deu-se com 1999, desse mesmo ano. Em 2016 haviam lançado Ibifornia, com participações de Pharrell, Cat Power ou Mike D (Beastie Boys). Agora preparavam-se para lançar o quinto álbum depois de um interregno de três anos. Dreems será lançado nesta sexta-feira, dois dias depois da morte de Philippe Zdar, num acidente de ressonâncias com aquele que vitimou DJ Mehdi em 2011, outro conhecido produtor e DJ francês, amigo de Zdar, que morreu após o tecto da sua casa ter cedido. 

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