Marta aproveita recorde para voltar a agitar a bandeira da igualdade

Avançada brasileira tornou-se na melhor marcadora de sempre em fases finais de Mundiais.

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Reuters/PHIL NOBLE

O minuto 74 do jogo Itália-Brasil (0-1), que encerrou o Grupo C do Campeonato do Mundo de futebol feminino, revestiu-se de especial significado: para a selecção “canarinha”, traduziu-se no apuramento para os oitavos-de-final da prova; para Marta, aquele remate certeiro da marca dos 11 metros valeu-lhe o estatuto da melhor marcadora de sempre em fases finais de Mundiais, independentemente do género. E foi de género (no caso, de igualdade) que voltou a falar-se após o encontro.

Por estes dias, no exterior do Estádio do Maracanã perfila-se uma tarja gigante com uma foto de Marta Vieira da Silva e a seguinte inscrição: “Obrigado, Rainha. A única atleta eleita seis vezes a melhor do mundo”. É esse estatuto que a avançada brasileira carrega às costas, naquela que é a sua quinta participação no mais importante torneio do planeta.

Antes do arranque da prova, que decorre em França, muito se especulou sobre a extensão da lesão que a jogadora contraíra na coxa esquerda. E a verdade é que, mesmo longe de estar a 100%, a camisola 10 já marcou por duas vezes (a primeira diante da Austrália) e ultrapassou o alemão Miroslav Klose no topo da lista de maiores goleadores da história dos Mundiais. São agora 17 os golos que Marta contabiliza. E há margem para ver o número aumentar.

Por mérito próprio, há muito que a alagoana entrou nos livros de história do futebol feminino. É, por isso, com o currículo preenchido e com a autoridade de quem tem ajudado a dinamizar a modalidade que aproveita o momento para engrossar as fileiras de uma batalha que vai muito para lá das quatro linhas.

“Quebrar recordes é algo que acontece naturalmente quando nos dedicamos ao trabalho com amor. Estou feliz demais. A gente está a quebrar muitas barreiras e este recorde representa bastante, porque não é só para a jogadora Marta, mas para todas as mulheres, num desporto que ainda é masculino para muitos”, sublinhou a avançada dos norte-americanos Orlando Pride.

O simbolismo da mensagem também tem uma componente visual, ou não estivesse a bandeira da igualdade de género gravada nas chuteiras da goleadora. Para uma atleta que já conquistou por duas vezes os Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007) e detém duas medalhas de prata olímpica (2004 e 2008), a responsabilidade de representar toda uma geração de jogadoras é acrescida.

“É uma oportunidade que temos de pedir mais apoio. De lutar pela igualdade, pelo empoderamento, de demonstrar que nós, mulheres, somos capazes de desempenhar qualquer actividade”, acrescentou, lembrando que este Mundial tem uma visibilidade extra, graças a uma cobertura televisiva alargada. “Que fique claro que não é só no desporto, é uma luta por igualdade para todas”.

Ainda está por definir se será a Alemanha ou a França o próximo adversário do Brasil no torneio, mas Marta, com a descontracção de quem provavelmente está a disputar o seu último Mundial, desvaloriza a questão. Até lá, há-de continuar a animar a comitiva depois dos treinos tocando o cavaquinho que a acompanha para todo o lado.

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