Fotografia
Entre o fumo, uma doença muda um fotógrafo (e as suas fotografias)
O fumo ainda não se dissipou — e, às vezes, levanta-se para "interferir" nas fotografias de Fábio Miguel Roque, deixando-as presas num "sossego enganador".
Em White Smoke, projecto fotográfico distinguido no final de Maio com uma menção honrosa no concurso Novos Talentos Fnac, poderiam ver-se antes radiografias, hospitais ou salas de espera, reconhece o fotógrafo de 33 anos que, no ano passado, descobriu que tinha uma doença pulmonar. “A verdade sempre foi uma: eu poderia ter levado uma vida plena e saudável, mas o tabaco sempre foi visto como uma muleta desde tenra idade”, escreve, na apresentação do projecto. “Se no passado, e face ao meu historial, eu de certeza iria optar por uma história trágica, onde iria explorar todo o universo médico e clínico a que tenho estado sujeito, desta vez optei por algo diferente.”
A procura que se seguiu a um diagnóstico ainda incerto é comum: a mudança radical de hábitos, uma reflexão profunda, “o regresso às origens”. Neste caso, ao preto e branco e à fotografia analógica — as imagens foram reveladas pelo próprio fotógrafo num quarto escuro improvisado em casa. Mas também o retorno a Sintra, aos “lugares isolados”, à natureza, ao contacto com animais, a pessoas diferentes que ainda lá estão, apesar do fumo.
O abandono total do digital — uma relação fugaz — e o regresso devoto ao analógico é também, diz, a "aceitação do erro e da indefinição”. “Testando vários métodos de revelação, assumindo o risco de prejudicar, de danificar negativos com temperaturas exageradamente altas, usando e abusando de algumas componentes técnicas da própria revelação analógica para 'marcar' as minhas imagens, tal como eu próprio me sinto marcado.” Este é um diário visual — e “um processo terapêutico”, ainda em construção.