Ásia
A lei da extradição está suspensa, mas nas ruas de Hong Kong continuam os protestos
Hong Kong continua a protestar, mas agora as manifestações concentram-se na chefe do Governo. Depois de Carrie Lam ter anunciado que a proposta de lei para a extradição de cidadãos locais para serem julgados na China ficaria suspensa, a população voltou a sair à rua neste domingo, vestida de negro, para manifestar a sua oposição à iniciativa. A mensagem dominante é a de que apenas a retirada completa do diploma será aceitável. Para já, não há registos de novos confrontos violentos com a polícia.
Jovens, famílias e idosos concentraram-se nos principais pontos da cidade, desde as estradas até às estações de metro para erguer cartazes a evidenciar, em mandarim e em inglês, mensagens como “não disparem, somos Hong Kong” ou “não nos matem”. Os manifestantes também continuam a erguer guarda-chuvas durante os protestos na região, uma referência às manifestações de 2014, mas também porque a região continua debaixo de temporais.
“Carrie Lam recusou-se a pedir desculpas. É inaceitável”, declara Catherine Cheung, de 16 anos, à Reuters, durante a manifestação. “É uma líder terrível e cheia de mentiras. Ela está apenas a atrasar a lei para nos enganar quando ficarmos calmos”, acrescenta.
Enquanto todos os analistas consideram que Carrie Lam perdeu toda a confiança da população, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, ao Diário do Povo, órgão oficial do regime, anunciou também este domingo que o Governo central expressou “firme apoio” a Lam.
O que está em causa?
Na segunda-feira, o Governo de Hong Kong tinha anunciado que iria manter a proposta de lei sobre a extradição, que permitiria transferir suspeitos de crimes para serem julgados na China continental. Pequim apoia esta medida e a população de Hong Kong recusa ser submetida à justiça chinesa, uma vez que é um território com alguma autonomia. A insistência do governo local em manter a discussão desencadeou novos protestos para quarta-feira, quando estava previsto o início do debate da lei na Assembleia Legislativa.
Carrie Lam, a actual chefe do Executivo da região administrativa especial chinesa, considerou que a lei seria “muito importante” para “garantir que a justiça prevaleça e Hong Kong cumpra as suas obrigações internacionais em matéria de criminalidade transfronteiriça e transnacional”. Depois de anunciar a suspensão do diploma com instruções de Pequim, Lam considerou que o recuo não serviu “para pacificar as pessoas ou, como alguns têm dito, para restaurar” a sua “reputação arruinada”.
Os protestos têm-se alastrado aos sectores mais elevados da sociedade de Hong Kong. Circularam várias petições contra a proposta de lei, milhares de advogados organizaram uma marcha silenciosa e câmaras de comércio demonstraram também a sua preocupação.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respectivamente, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”. Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa. Perto de 7,5 milhões de pessoas vivem em Hong Kong.