Fotografia
Alterações climáticas: os mais pobres poluem menos e sofrem mais
Em 2017 e 2018, a dupla de fotógrafos Lena Dobrowolska e Teo Ormond-Skeaping visitou um conjunto de cinco países – desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos – com o objectivo de “explorar os temas da vulnerabilidade e da responsabilidade” no contexto das alterações climáticas. Com o projecto Future Scenarios, que integra a Bienal de Fotografia Porto, a polaca e o britânico pretendem levantar questões acerca da percepção do fenómeno das alterações climáticas nos diversos locais que visitaram e aferir o poder desse entendimento sobre o comportamento humano.
Após um olhar atento sobre os contextos do Reino Unido, Nepal, Bangladesh, Laos e Uganda, os fotógrafos verificaram que foi nos países subdesenvolvidos que encontraram os “líderes emergentes no desenvolvimento de estratégias de redução de danos” causados pelas alterações climáticas, como se pode ler na sinopse do projecto. É nesses países – “os que menos contribuem para o total das emissões globais de carbono” – que a população revela maior capacidade de adaptação e resiliência às adversidades que decorrem do fenómeno. São também os subdesenvolvidos aqueles que, segundo a equipa, “mais perto estão da descarbonização das suas economias”, os que mais investem “na investigação das perdas e danos” causados pelo fenómeno, e os que mais partilham conhecimento sobre energias renováveis. São, simultaneamente, as principais vítimas das alterações e aqueles que mais agem no sentido da preservação do meio ambiente.
Ao trazer para luz este facto, Dobrowolska e Ormond-Skeaping convidam-nos a olhar para estes países como exemplos, “rejeitando a narrativa fatalista” de que vulnerabilidade é sinónimo de inércia ou vitimização.
O projecto, composto por fotografias e vídeo, pretende denunciar as relações de poder que existem entre as economias desenvolvidas (e poluentes) e as menos desenvolvidas e expor a “lenta violência” de que é vítima a população das últimas. Mas “somos todos responsáveis”, constatam os autores. “E vulneráveis”, acrescentam. “Mas não somos todos igualmente responsáveis”, ressalvam. E, no final, porque o mundo é redondo e uno, um cidadão britânico e um ugandês terão o mesmo destino: o de habitar um planeta sujo e inóspito.
A exposição Future Scenarios, que dá resposta ao tema central da Bienal de Fotografia do Porto – as alterações climáticas – poderá ser visitada até 2 de Julho na Reitoria da Universidade do Porto. A propósito do mesmo tema e do Dia Mundial do Ambiente, que assinala esta quarta-feira, 5 de Junho, a Ci.clo, responsável pela organização da Bienal de Fotografia, tem marcado para 8 de Junho, às 15 horas, na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, o simpósio Creative Responses to Sustainability – Portugal Green Guide 2019, que junta investigadores, artistas e curadores de arte e os convida a pensar, em conjunto com o público do evento, sobre o tema das alterações climáticas e o papel da arte na transmissão de uma mensagem verde.