“São nucas, senhor, são nucas”: as “paisagens humanas” de Rodrigo Roher
As imagens da série Marcus, do espanhol Rodrigo Roher, partem de um amor improvável do fotógrafo pela pintura abstracta do norte-americano Mark Rothko, um artista cujas telas, geralmente de grandes dimensões, estão segmentadas por manchas de cor de formas toscamente rectangulares. Foi no sentido de mimetizar as criações de Rothko que o fotógrafo decidiu procurar, no corpo humano, um enquadramento que pudesse repetir e cujo resultado se traduzisse também em manchas de cor. "As nucas [que figuram nas imagens] contam-nos muita coisa e, por vezes, equivocam o espectador, que nem sempre percebe de que parte do corpo se trata", explicou ao P3, via email. "O resultado são paisagens humanas, são Rothkos 'de cabelo e pele' que simulam a técnica da mancha de cor do pintor." A diferença é que Rodrigo utiliza a luz como palete, a câmara como pincel e muitos homens maduros como musas e modelos.
A ideia surgiu depois de ter feito apenas uma das imagens. "Eu sou admirador da obra do pintor americano e percebi que existia uma relação entre a fotografia que fiz e os seus quadros. A partir desse momento, comecei a estudar afincadamente a sua biografia, criações, motivações." Seguiram-se os disparos fotográficos et voilà: "Assim nasce Marcus." Cada fotografia está associada a uma obra do pintor. O objectivo do espanhol não é "capturar a magnitude do trabalho de Rothko", mas sim afastar o misticismo que rodeia a sua obra e torná-la mais tangível, concreta. Mundana.