Uma celebração em banda desenhada
O livro As Luzes do Príncipe, com argumento de João Ramalho-Santos e ilustração de Rui Tavares, acaba de ter distribuição gratuita em escolas da ilha do Príncipe e o mesmo acontecerá em escolas portuguesas e nos centros Ciência Viva.
João Ramalho-Santos é biólogo e presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra. Mas o que nos traz aqui hoje é a banda desenhada de que gosta tanto, sendo autor e co-autor do argumento de vários livros de BD – e de histórias mais curtas, de duas páginas, centradas na biologia, que tem divulgado no PÚBLICO com a sua equipa. Desta vez, o tema é outro – as experiências realizadas na ilha do Príncipe em 1919, que ajudaram a validar a teoria da relatividade geral. Curioso também é que João Ramalho-Santos e o ilustrador, Rui Tavares, entram na história como personagens.
“Então professor, sobre o que é esta história? Sobre o corpo humano? Sobre como funcionam as mitocôndrias?”, pergunta logo no início do livro Rui Tavares a João Ramalho-Santos, desenhado com o seu emblemático rabo-de-cavalo. “Não Rui, desta vez não é sobre biologia. Mas física.” Está dado o mote de As Luzes do Príncipe, livro de BD de 44 páginas, uma edição de 5000 exemplares em papel e gratuito. E muita divulgação científica, para que todos percebam facilmente o que disse Einstein na teoria da relatividade geral e como é que o encurvamento da luz ao passar perto do nosso Sol provou que a visão de cosmos do físico estava certa. E, ainda, por que é que as experiências de observação de um eclipse solar total tiveram lugar na roça Sundy, na ilha do Príncipe, e na cidade de Sobral, no Brasil.
O biólogo – que faz investigação sobretudo na área da biologia da reprodução, com destaque na fertilização, formação de espermatozóides e óvulos, e ainda células estaminais – respondeu a um desafio da agência Ciência Viva.
“Disse que sim, quase automaticamente.... Depois quase que me arrependi, dada a quantidade de pesquisas que tive de fazer de um tópico que não é a minha área”, conta João Ramalho-Santos. “Sendo um livro de física, e não sendo nem eu nem o Rui de física, achei por bem fazer do livro também uma espécie de viagem de descoberta nossa ao tema, trocando ideias sobre como pôr as ideias de Einstein e as experiências de Eddington [chefe da expedição britânica à ilha do Príncipe] e Dyson [o responsável pela organização das duas expedições britânicas] no papel, descartando ideias más...”
O livro foi lançado oficialmente esta semana em escolas da ilha do Príncipe. “Tive o real prazer de distribuir a BD nas escolas e ver a alegria de professores e alunos com algo que lhes diz respeito, mas nem todos conhecem em pormenor. Pode ser um modo de inspirar são-tomenses em ciência. É gratificante ter a sensação de algo poder fazer muito mais diferença do que se fosse distribuído só em Portugal. Esse é o desafio fundamental que assumo em comunicação de ciência.”
A partir da próxima semana, As Luzes do Príncipe vão ser distribuídas nos Centros de Ciência Viva e em escolas portuguesas (“pelo menos nas bibliotecas”, refere João Ramalho-Santos). É o sétimo livro de banda desenhada em que o investigador é autor ou co-autor, como A Revolução Interior – À Procura do 25 de Abril (1999), Eden 2.0 (2011) e Uma Aventura Estaminal (2013). Com a sua equipa do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, também criou pequenas histórias de BD para o PÚBLICO como divulgação científica – sobre o sono, a diabetes, a (in)fertilidade humana ou a tuberculose.
Durante as celebrações do centenário da confirmação da teoria da relatividade geral vai ser lançado, na ilha do Príncipe, o livro O Eclipse de Einstein – Entre Lisboa, Londres e o Príncipe, de Luís Tirapicos e Nuno Crato, editado pelo Clube do Coleccionador dos Correios.
Haverá ainda outro livro em banda desenhada sobre as viagens ao Príncipe e a Sobral em 1919, com ilustrações da artista Ana Matilde Sousa e texto de Ana Simões, historiadora da ciência do Centro Interuniversitário de Histórias da Ciência e Tecnologia da Faculdade de Ciências de Lisboa. Sairá mais para o final do ano, a 6 de Novembro, quando o mundo soube da validação da relatividade geral com as observações do eclipse total de 29 de Maio de 1919.
Para já, fiquemos mais um pouco com As Luzes do Príncipe. “E foi preciso ir à ilha do Príncipe para o confirmar [que Einstein tinha razão]”, diz a personagem Rui Tavares. “A ciência vai onde for preciso! Tem é de ser igual sempre, e para todos”, responde-lhe a personagem João Ramalho-Santos. “Esta história mostra como podemos fazer descobertas importantes em qualquer sítio.”