A nova Europa
Numa sondagem recente do European Council on Foreign Relations, a maioria dos europeus (excepto os espanhóis) consideram provável o fim da União Europeia nos próximos dez ou 20 anos: os nacionalistas antieuropeus não têm dúvidas nessa matéria, os europeístas temem que o desastre possa acontecer. É a nova Europa.
As eleições para o Parlamento Europeu (PE) confirmam as tendências de mudança que estão a transformar a identidade política da velha Europa.
A Europa do pós-Guerra foi dominada pelos democratas-cristãos do Partido Popular Europeu (PPE) e pelos sociais-democratas da aliança dos Socialistas e Democratas (S&D), que construíram uma comunidade assente nos valores da democracia pluralista, do primado do direito e da economia de mercado. Essa Europa está posta em causa.
Desde logo, o declínio dos antigos partidos centristas é claro: pela primeira vez, o PPE e a S&D em conjunto têm menos de metade dos mandatos do PE. Na Alemanha, pela primeira vez, a CDU e o SPD em conjunto tiveram menos de metade dos votos. Em França, o Rassemblement National (RN) e o República em Marcha dominam as eleições europeias: o PS e os Republicanos tornaram-se pequenos partidos. Em Itália, os democratas-cristãos são uma força residual e a Liga vai ser o segundo maior partido em Estrasburgo.
Por outro lado, a ascensão das correntes antieuropeias de esquerda e de direita é evidente. O Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha, a Liga e o Cinco Estrelas na Itália, o PiS na Polónia e o Fidesz na Hungria consolidam as suas posições e o RN é o maior partido de França. A extrema-direita, a extrema-esquerda e a direita conservadora antieuropeia estão dispersas por mais de 30 partidos e, em conjunto, podem ser a segunda força no PE, à frente da S&D.
Por último, a clivagem entre europeístas e antieuropeístas é nítida, embora ainda não tenha uma tradução política no PE: o PPE e a S&D, instalados nos hábitos da sua hegemonia perdida, querem continuar a controlar as instituições europeias; a nuvem das forças antieuropeias, instalada nos hábitos do radicalismo minoritário, é excessivamente heterogénea e continua demasiado fragmentada.
As eleições europeias podem transformar o Parlamento Europeu. A Liga, o RN e a Alternativa para a Alemanha (AfD) querem federar os nacionalistas da direita radical e formar o terceiro maior grupo do PE. Essa iniciativa tem mérito, não só por institucionalizar a oposição antieuropeia, mas também por separar os antieuropeus de direita e de esquerda. A S&D – onde tanto o Partido Democrático italiano como o Partido Socialista espanhol (PSOE) têm mais mandatos do que o SPD alemão – deve responder a essa oportunidade para cooptar o Syriza e o Podemos e alargar o seu grupo parlamentar, à esquerda e à direita. O Em Marcha, que não conseguiu formar um novo partido europeu para garantir a “Renascença Europeia” e foi derrotado nas eleições em França, perdeu o seu élan político: é improvável que consiga transformar o grupo liberal (ALDE) no novo centro político do PE. O PPE está refém das tensões que opõem a sua maioria federalista ao Fidesz, que tem mais de dois terços dos votos na Hungria e deve ser o segundo maior partido no grupo democrata-cristão, a seguir à CDU, que tem menos de um terço dos votos na Alemanha: se o partido húngaro e os nacionalistas polacos se unirem aos grupo da direita nacionalista antieuropeia é indispensável articular uma nova maioria europeísta no PE.
Esse realinhamento é uma alternativa necessária à crescente fragmentação revelada pelas eleições europeias: sem a dupla hegemonia do PPE e do S&D, com o declínio paralelo dos grandes partidos alemães – o Partido Verde ultrapassou o SDP –, o PE pode ficar paralisado.
Numa sondagem recente do European Council on Foreign Relations, a maioria dos europeus (excepto os espanhóis) consideram provável o fim da União Europeia nos próximos dez ou 20 anos: os nacionalistas antieuropeus não têm dúvidas nessa matéria, os europeístas temem que o desastre possa acontecer. É a nova Europa.