Cancro na mama na mulher jovem: grandes desafios
O diagnóstico de cancro da mama é, possivelmente, o diagnóstico oncológico que mais preocupa as mulheres em qualquer idade.
O cancro da mama afeta as mulheres em idades diferentes e todas elas com necessidades específicas que devem ser devidamente atendidas e respeitadas. Ter um diagnóstico de cancro da mama é difícil em qualquer idade, porém tê-lo mais jovem, torna-se ainda mais exigente. O diagnóstico de cancro da mama é, possivelmente, o diagnóstico oncológico que mais preocupa as mulheres em qualquer idade.
Sendo historicamente um diagnóstico mais frequente após os 50-60 anos, e que tem aumentado em todas as idades, nos últimos 10-15 anos tem tido expressão também em idades mais jovens (30-40 anos), uma situação que anteriormente era rara. Se um diagnóstico de cancro da mama é um desafio para qualquer mulher, nestas idades mais jovens coloca desafios adicionais. Desde logo o do próprio diagnóstico precoce, tão importante para as possibilidades de cura. Estas idades mais jovens, pela relativa raridade do diagnóstico, não estão cobertas pelos programas de rastreio.
Hoje, a maioria das mulheres jovens trabalha a tempo inteiro e muitas têm profissões com elevado grau de exigência. Como compatibilizar o tratamento de um cancro da mama com a profissão/carreira profissional é uma questão que se coloca a muitas destas mulheres e aos profissionais que as tratam, bem como às organizações nas quais trabalham.
Se os tratamentos cirúrgicos obrigam a algumas pausas – geralmente de curta duração –, a duração da quimioterapia é de vários meses, mas com variações na capacidade para manter a actividade profissional ao longo deste tempo. O atingimento da capacidade física, (algum cansaço ou mal estar), bem como as alterações de imagem que os tratamentos podem produzir (ex: queda do cabelo, perda de sobrancelhas, retenção de líquidos) também desafiam a vontade de muitas mulheres para continuarem uma vida activa do ponto de vista profissional.
Além disso, tanto as alterações de imagem como a capacidade física ao longo dos tratamentos, podem também constituir um desafio para as mulheres que têm filhos pequenos e que ainda exigem muita atenção. Outro desafio que o diagnóstico em idades mais jovens coloca, em relação às idades mais avançadas, é o que dizer às crianças, como dizer e quando. Os especialistas de pedopsicologia referem que o ideal será adequar a mensagem e a quantidade de informação à idade das crianças ou jovens.
O estilo de vida da nossa sociedade tem desafios profissionais relevantes que levam frequentemente as mulheres a um adiamento da maternidade. Este facto torna possível que uma mulher possa ver-se confrontada com um cancro da mama antes de ter sido mãe, sendo que a constituição de uma família estava nos seus projectos. Alguns dos medicamentos utilizados no cancro da mama (quimioterapia), pelo efeito que têm sobre os ovários, podem comprometer a possibilidade de uma gravidez após o fim do tratamento. Também a duração maior dos tratamentos hormonais (que podem durar dez anos) levam a equacionar como/quando será possível concretizar este desejo de maternidade.
Perante uma mulher jovem com diagnóstico de cancro de mama e consequente necessidade de tratamentos, o tema da fertilidade ou preservação do potencial fértil terá de ser abordado nas primeiras consultas, pelos prazos a cumprir, uma vez que uma eventual colheita de ovócitos terá que ser feita de acordo com o ciclo menstrual e antes do início de qualquer tratamento.
Com repercussão em tantos aspectos da vida das mulheres, seria impossível que este diagnóstico se repercutisse apenas na mulher: ele tem forçosamente impacto em todos os que lhe são mais próximos, e por tudo o que atrás foi referido, tem potencial para abalar a sua vida familiar e conjugal. A sobrevivência, que é o grande objectivo do tratamento, pode ser também vivido com alguma ansiedade: quer pelos efeitos dos tratamentos, quer pelo receio de que a doença volte, ou que afete outras pessoas da família.
São muitos os desafios que as mulheres jovens enfrentam e, por isso, a CUF acredita que a proximidade das equipas clínicas e todo o ambiente em torno da doente com cancro contribuem para o seu bem-estar, confiança e perseverança. Contribuem para uma melhor compreensão da doença e do seu percurso, no tratamento, contribuindo para reduzir a ansiedade e depressão que o cancro da mama pode causar.
Como podemos constatar, o cancro da mama na mulher jovem tem um grande impacto na sua estabilidade física, emocional e social, por essa razão a prática clínica tem cada vez mais atenção a todos estes fatores, de forma a contribuir para um tratamento mais abrangente e que além do tratamento da doença, contribua para uma melhor qualidade de vida.
Em Portugal, cerca de 85% das mulheres diagnosticadas com cancro da mama, em estadios precoces, sobrevivem à doença. Embora a taxa de sobrevivência seja das mais elevadas, infelizmente ainda morrem todos os anos 1500 portuguesas. Por isso, temos #1500razões para estarmos próximos. Para falarmos abertamente do cancro da mama e para tomarmos medidas que minimizam as suas consequências.
O Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, leva a cabo o primeiro encontro sobre os “Desafios da Mulher jovem com cancro da mama”, no dia 28 de Maio.