Arquitectura
As ideias sonhadoras e alienígenas para a Notre-Dame
Uma semana após o incêndio que causou o desmoronamento da torre central e de dois terços do tecto da catedral de Notre-Dame, o designer francês Mathieu Lehanneur pensou: “Fará sentido reconstruir a catedral exactamente como era no século XIX?” Subitamente, essa ideia pareceu-lhe um absurdo. Este é o momento de dar uma nova cara ao grande símbolo parisiense, pensou, e elaborou um plano. Lehanneur propõe substituir a torre por uma estrutura de 90 metros de altura, em forma de chama, feita à base de fibra de carbono e coberta por folha dourada. “A chama é um símbolo bíblico muito forte”, argumentou em entrevista ao The New York Times. “É poderoso.” A proposta, porém, não caiu bem entre os seus seguidores do Instagram. Alguns chegaram mesmo a considerá-la “blasfema”.
O francês pode ser um sonhador, mas não está sozinho. A sua simulação em 3D está entre as várias dezenas, de outros autores, que têm corrido a Internet, todas com propostas surpreendentes para dar uma nova cara (ou tecto) à catedral. Os suecos Ulf Mejergren Architects (UMA) construíram sobre o edifício uma piscina de enormes proporções; o objectivo seria transformar a Notre-Dame num “novo e meditativo espaço público com vistas inigualáveis sobre Paris”. O arquitecto Alex Nerovnya, professor no Instituto de Arquitectura de Moscovo, idealizou uma estrutura que se assemelha a um diamante. A firma de design Vizum Atelier, sediada na Eslováquia, concebeu uma estrutura que baptizou de Farol Para Almas Perdidas: sobre uma nova estrutura pinacular, os arquitectos imaginaram a implantação de um feixe laser apontado a Deus. As estruturas em vidro, no entanto, estão em maioria. Multiplicam-se as propostas que incluem estufas e majestosos vitrais — é o caso da ideia do arquitecto cipriota Dakis Panayiotou, que concebeu uma composição intrigantemente futurista e algo alienígena.
Vários dos designers entrevistados pelo jornal norte-americano consideram as suas criações “respostas artísticas ao choque do incêndio”, no entanto há também quem almeje ver o seu plano escolhido. Dois dias após o incêndio, o primeiro-ministro francês Édouard Philippe anunciou a criação de um concurso internacional para a substituição da estrutura actual, um desafio que o político considerou de “grande responsabilidade histórica”.