Posição do PCP sobre professores pode levar Mário Nogueira a afastar-se do partido

O líder da Fenprof esperava “maior abertura” do seu partido face ao que é “essencial” para os professores no que toca ao tempo de serviço congelado. E assume estar magoado com a posição do PCP e com os remoques de que está a ser alvo por parte de militantes comunistas.

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Nogueira diz que só soube da resposta ao seu apelo pela comunicação social Rui Gaudencio

Não é só à direita que as posições das direcções partidárias em relação ao tempo de serviço dos professores estão a causar amargos de boca. Também à esquerda a “falta de abertura” do PCP e do BE face ao que os professores consideram essencial – a aprovação da recuperação integral do tempo de serviço dos docentes – está a causar mal-estar, principalmente entre os dirigentes sindicais que são militantes destes dois partidos.

É o caso do líder da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, que em declarações ao PÚBLICO não esconde a sua mágoa face à posição anunciada nesta segunda-feira pelo PCP, o partido de que é militante de base e que vai contribuir para deitar por terra a contagem integral do tempo de serviço congelado.

“Poderia ter havido uma maior consideração pelos professores e isso põe-nos a pensar”, indicou Nogueira, que na segunda-feira apelou directamente aos partidos de esquerda para que se abstivessem na votação das condições propostas pelo PSD e CDS, no sentido de fazer depender a concretização da contagem do tempo de serviço das condições económicas do país. Porque a inclusão destas condições é “melhor do que ver apagado os anos que os professores trabalharam”, que passou a ser o que está em cima da mesa na votação da próxima sexta-feira no Parlamento, alertou. O apelo não surtiu efeito: PCP e BE anunciaram que vão mesmo votar contra.

“Estes mesmos critérios da sustentabilidade económica também estão inscritos nos Orçamentos do Estado que o PCP e o BE aprovaram”, lembra Nogueira. Questionado sobre se está a pensar desfiliar-se do PCP devido à posição agora assumida por este partido, o líder da Fenprof comentou que ainda não teve “tempo para pensar nisso”, mas também não descartou esta possibilidade.

“Quando se aceita estar numa vida mais pública, consegue-se muitas vezes viver com os insultos e ataques que muitas vezes vêm de onde já se espera. Não é isso que mata. O que mói é quando vêm de pessoas mais próximas, como o meu camarada Carlos Carvalhas, e isso põe-nos a pensar sobre o futuro”, resume Nogueira.

Em declarações à TSF nesta terça-feira, o antigo secretário-geral do PCP Carlos Carvalhas disse que só entende o apelo aos partidos de esquerda feito por Nogueira na véspera “pelo desespero”. “A certa altura, as pessoas agarram-se a qualquer coisa”, acrescentou. 

Em campanha no Alentejo, o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, disse nesta terça-feira que “houve uma apreensão [do secretário-geral da Fenprof], que se compreende perfeitamente. Mas a grande questão é que não podemos enganar e iludir os professores”, votando favoravelmente os critérios da direita “a troco de uma mão cheia de nada”. “Acho que, mais cedo ou mais tarde, os professores vão assumir que fizemos bem”, disse.

O líder da Fenprof revelou ainda que só soube da posição do PCP e do BE quanto ao modo como vão votar no Parlamento pela comunicação social.

Numa carta aberta dirigida a todos os líderes partidários, a plataforma das dez estruturas sindicais que têm liderado a luta pela recuperação integral apelou nesta terça-feira para que respeitem “os compromissos assumidos junto dos docentes”, tendo em conta na votação de sexta-feira o que, para os professores, é essencial”.

O líder da Federação Nacional da Educação, João Dias da Silva, está ainda à espera de que esta carta “e o que têm vindo a dizer nos últimos dias” possa reverter o esperado chumbo no Parlamento. “Não temos tido contactos formais, mas quando estamos no mesmo espaço com outros temos dito o que nos preocupa e deixado as nossas mensagens”, adiantou Dias da Silva, que é militante do PSD.

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