Onomatopeia junta autores crescidos e leitores a crescer
Valongo estreia festival de literatura infanto-juvenil, para ajudar a criar uma “sociedade de leitores pensantes e críticos”. De 2 a 5 de Maio
Depois do projecto Ler não Custa Nada, que começou em 2014 e fez triplicar o número de leitores nas bibliotecas públicas (de três mil para mais de dez mil), segundo o presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, surge agora um festival literário destinado ao público infanto-juvenil do concelho, Onomatopeia.
É mesmo essa a sua originalidade, de acordo com a organização, liderada pela editora e escritora Adélia Carvalho. “Existem festivais literários que dedicam uma ou outra edição, ou uma parte do certame, à literatura infanto-juvenil. Mas nenhum tem na sua génese os livros para a infância e as crianças como principal público-alvo.”
A presidir a um dos “municípios em Portugal com maior percentagem de jovens”, José Manuel Ribeiro acredita que “quem lê activamente se torna muito especial, com maior espírito crítico e com maior sensibilidade para os valores e actividades humanas como a cultura, a solidariedade e a cidadania. Um leitor activo é uma pessoa que também se envolve de forma diferente na vida em comunidade”.
Os sons da literatura infanto-juvenil
O nome dado ao festival, Onomatopeia, é-nos assim explicado, via e-mail, por Adélia Carvalho, também livreira no Porto: “Uma onomatopeia é uma figura de estilo através da qual se reproduz um som. Ruídos, gritos, sons de animais ou da natureza, barulhos de máquinas, o próprio timbre da voz humana, tudo isto faz parte do universo das onomatopeias. A própria palavra reflecte som e movimento e a literatura para a infância está recheada de tudo isto. Logo, não havia melhor nome para este festival. É um nome diferente, com uma riqueza extraordinária, designadamente muita sonoridade, e que tem tudo a ver com os imaginários da literatura infanto-juvenil.”
Nas escolas e no centro
Quinta-feira e sexta-feira, as escolas recebem escritores (David Machado, Isabel Zambujal, Carlos Granja, Manuela Leitão, Rui Machado, Raquel Patriarca) e ilustradores (Yara Kono, Sebastião Peixoto, Evelina Oliveira, Anabela Dias e Paulo Sérgio Bejú).
No fim-de-semana, há encontros com autores na biblioteca municipal (Álvaro Magalhães, Inês Fonseca Santos, Sandro William Junqueira), animação de rua e espectáculos musicais e de dança (Praça Machado dos Santos, Avenida 5 de Outubro e Rua de São Mamede).
No domingo de manhã, na biblioteca, Mû Mbana orienta uma oficina de histórias cantadas africanas. À tarde, no coreto, Ana Gimbra realiza um atelier de costura para brinquedos.
A par do encontro, a biblioteca expõe trabalhos vários ilustradores nacionais, não apenas dos que participam no encontro, casos de Alex Gozblau, Cátia Vidinhas, José Manuel Saraiva, David Pintor, Gonçalo Viana e Marta Madureira.
Os autores foram escolhidos pelo seu “reconhecimento no panorama nacional, quer na escrita quer na ilustração”. Vários deles também já “com reconhecimento internacional”.
Leitura e cultura estética
Para que servem estes encontros? “Para promover a leitura desde tenra idade, para dar a conhecer os escritores e ilustradores de literatura infanto-juvenil, para que os jovens aprendam o poder de socializar em volta do mundo dos livros, para estimular novos talentos na literatura. Queremos proporcionar experiências determinantes para a consolidação do gosto pela leitura e para o desenvolvimento de uma cultura estética junto dos mais novos”, diz Adélia Carvalho.
Para José Manuel Ribeiro, “o evento pretende contribuir para este esforço colocando em contacto escritores, ilustradores e os leitores, num ambiente descontraído e capaz de oferecer um interesse sólido pela leitura e expressão plástica. A literatura infanto-juvenil é há muito tempo determinante para a criação de hábitos de leitura. Este festival é mais um contributo para a formação de uma sociedade de leitores pensantes e críticos”.
Efeito surpresa
Adélia Carvalho, editora da Tcharan, explica a razão por que não houve preparação prévia das obras dos autores convidados junto das escolas, como é frequente neste tipo de iniciativas: “Quisemos apostar no factor surpresa. Pretendemos que as crianças cheguem à Praça Machado dos Santos, à biblioteca municipal ou a qualquer um dos outros locais abrangidos pelo festival e se sintam espontaneamente envolvidas pela magia da literatura para a infância, nas suas mais diversas expressões.”
Diz ainda como se pretende que ao longo destes quatro dias Valongo se transforme “num mundo encantado de histórias contadas, cantadas, ilustradas, espelhadas nas montras do comércio local, encarnadas em figuras míticas do imaginário infantil, trabalhadas pelas mãos dos mais pequenos”. Por isso, prescindiu de “qualquer trabalho prévio”. Quer que “tudo [seja] surpresa, tudo espontâneo, tal como as crianças”. Para concluir: “Pretendemos que, simplesmente, desfrutem.”