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A direita anda num frenesim. Porquê?

Novos partidos à direita. Novos movimentos de reflexão à direita. Crises e corridas para a liderança à direita. A direita acordou para as eleições que se avizinham? Está a fragmentar-se? Ou a unir-se contra a esquerda que lhe tirou o poder?

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Um dos movimentos que surgiram à direita é o M5.7 Miguel Manso

Partidos novos: Iniciativa Liberal e Aliança. Uma coligação entre o PPM, o Partido Cidadania e Democracia Cristã e os movimentos, também novos, Democracia 21 e Chega. Crises de liderança no PSD. Movimentos de reflexão: o Movimento Europa e Liberdade (MEL) e o Movimento 5.7. Tudo novidades no panorama político e tudo à direita. A que se deve esta agitação? À proximidade de vários actos eleitorais? Ao factor novidade da chamada “geringonça” que provocou uma reacção na direita?

Dois académicos ouvidos pelo PÚBLICO fazem leituras que se cruzam em alguns pontos e afastam noutros. Para o politólogo António Costa Pinto (do Instituto de Ciências Sociais) parece claro que este dinamismo se deve a uma conjugação de factores: ao facto de ter havido uma crise no PSD, que levou à dissidência de Pedro Santana Lopes e à formação de um novo partido; ao facto de ser um ano de várias eleições; e também ao facto de a solução de Governo ser inédita e à esquerda.

Já Paula Espírito Santo (do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas) atribui menos peso, nesta equação, à chamada “geringonça”. Para esta docente, a chave para explicar esta actividade à direita está na questão das lideranças: quanto menos fortes ou conciliadoras forem, maior a proliferação de partidos e de movimentos.

Embora as verdadeiras pedradas no charco ainda estivessem longe, as águas à direita começaram a mexer-se depois das eleições legislativas de 2015. Mesmo que as ondas provocadas fossem quase imperceptíveis, a ideia, por exemplo, de criar o partido Iniciativa Liberal começou a formar-se nessa altura, depois daquele sufrágio que permitiu à esquerda, pela primeira vez na história do país, entender-se, derrubar a direita do poder e tomar conta do Governo do país.

Mas a grande agitação, criada com o nascimento da Aliança e de novos movimentos de reflexão à direita, só viria mais tarde, quando no calendário já começam a sobrar menos folhas até aos vários actos eleitorais.

António Costa Pinto não tem dúvidas: “A ‘geringonça’ introduziu uma novidade no sistema partidário português”, diz, lembrando que, ao contrário da direita que já se tinha coligado, pela primeira na história de democracia, também a esquerda se entende para governar. “A ‘geringonça’ introduziu alterações a essa dinâmica”, nota.

O académico introduz mais um ponto na reflexão: “A direita estava congelada do ponto de vista de representação partidária.” Esse espaço, prossegue, estava confinado ao PSD e ao CDS. Para Costa Pinto, aquele “congelamento foi, finalmente, abalado e foi abalado tendo como pano de fundo a crise interna do PSD”.

Desse abalo surgiu a Aliança (criada por Pedro Santana Lopes que abandona o PSD). Mas não só: também André Ventura sai do PSD e cria o Chega que, entretanto, se juntou a outros partidos e movimentos à direita, como o Democracia 21, também fundado por uma ex-militante do PSD, Sofia Afonso Ferreira.

Falar para dentro

António Costa Pinto separa as águas no que toca ao impacto que estes partidos podem ter à direita e ao próprio perfil que apresentam. De um lado, existe uma “crise interna do PSD” que “provocou, pela primeira vez, uma dissidência chefiada por Santana Lopes”; de outro, está um partido, o Chega, “inserido numa dinâmica europeia de afirmação de partidos populistas de direita” que será, defende, “a incógnita mais importante” das eleições europeias.

Quanto ao movimento 5.7 – criado por Miguel Morgado, do PSD, e que junta gente de vários sectores da direita, incluindo figuras de peso do CDS e até o presidente da Iniciativa Liberal –, o politólogo vê-o sobretudo como um grupo de “reflexão” e de “pressão à direita”, concebido para introduzir “uma dinâmica de reconfiguração partidária” e para marcar uma posição “mais firme e liberal à direita”, em relação ao PS.

Mas não lhe atribui a dimensão eleitoral dos partidos recém-criados. Os partidos, explica, estão a falar para fora; os movimentos estão a falar para dentro da própria direita. “O movimento 5.7 tem intelectuais e políticos e será importante ao nível das elites partidárias e intelectuais, mas não ao nível de massas”, justifica o académico que até vê com bons olhos estas movimentações, “despertaram” a direita.

Paula Espírito Santo faz uma leitura um pouco diferente. A académica não nega que haja um “contexto multifactorial” que justifique o fervilhar. Nem põe de parte a possibilidade de a direita se ter assustado quando foi afastada do poder por inesperados entendimentos à esquerda. Admite que aquela energia possa ser uma resposta ao facto de a “geringonça” ter funcionado, mesmo que com “falhas”, mas entende que a principal razão se prende com a existência de “lideranças mais ou menos fortes no PSD”.

Para esta docente, o que explica, sobretudo, este dinamismo é “menos a reacção ao poder instituído e mais a oposição, no sentido de não haver uma identificação com as lideranças da direita”.

E ainda o facto de a direita estar, actualmente, na oposição: “O estar na oposição deve motivar um contexto mais agressivo para ganhar eleições. Estão na posição dos desafiantes. Quem tem de se reinventar mais é quem está na oposição”, diz, contrapondo que “quem está no poder” tem, “em regra, uma posição mais conciliadora, mais pacífica”.

Mesmo que estes acontecimentos tragam vitalidade à política, também podem prejudicar a direita “em termos eleitorais”: “Faltam lideranças fortes e mobilizadoras, neste momento, à direita, pelo menos que conciliem toda a gente. A Aliança vai contribuir para fragmentar mais a direita e o PSD. E isso acaba por antecipar uma fragilidade, no sentido de se conquistar uma maioria na Assembleia da República e de se governar”, conclui Paula Espírito Santo.

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