A direita que não gosta do Inverno nem de Rui Rio
O que também une os novos partidos e movimentos à direita é a descrença em Rui Rio enquanto representante deste eleitorado e futuro líder do Governo.
O frenesim em que vive a direita portuguesa nasceu no dia 26 de Novembro de 2015 quando um incrédulo Presidente da República deu posse a um Governo em cuja estabilidade não acreditava e a quem os quatro anos que se seguiram trataram de desmentir. O que se tornou instável foi um PSD atirado para uma oposição que não foi capaz de unir e dirigir, conduzindo Passos Coelho a uma monástica travessia do deserto e Paulo Portas a uma exuberante carreira de gestor.
A actual solução governativa e a extinção da coligação entre PSD e CDS, o facto do centro-direita se manter na oposição e aqueles dois partidos sempre a uma distância higiénica, a proximidade de um longo ciclo eleitoral ou os mimetismos que surgiram por toda a Europa são factores que explicam a fragmentação deste espaço político. Olha-se para a direita Espanha e o que se vê é assustador, quando o PP rivaliza com a extrema-direita do Vox no número de bandarilheiros que consegue captar para as eleições de 28 de Abril e cujas divisões levam Aznar a entrar em campanha, alertando para os possíveis efeitos desse fraccionamento nas urnas. A esquerda passou por processos semelhantes por toda a Europa.
O atrevimento inconsequente de Luís Montenegro pode ter tido o condão de adiar a luta pela direcção do PSD e por fortalecer, pelo menos temporariamente, a liderança de Rui Rio, mas não garantiu à direita uma liderança inquestionável. A direita não tem líder. Dessa ausência de liderança nasceram novos partidos como o Iniciativa Liberal ou o Aliança, partidos que ainda estão na forja como o Democracia 21 ou o Chega, declinações para todos os gostos de uma família política que se desmembra e que dificilmente se voltará a reunir numa Aliança Democrática ou no Portugal à Frente.
Movimentos de reflexão como o Movimento Europa e Liberdade ou o Movimento 5.7 também aí estão para anunciar o fim do “longo Inverno socialista” e o início da Primavera. Mas o que todos eles parecem ter em comum não é apenas o pouco apreço pelo Inverno; é também a descrença em Rio enquanto representante do eleitorado de direita e futuro líder de um Governo. Tudo isto é hoje uma incógnita e só as próximas eleições poderão confirmar como esta reconfiguração será levada à prática. Mas algo parece certo: o binómio clássico da direita portuguesa pode ter os seus dias contados e uma maioria parlamentar mais dificultada com esta fragmentação.