Accionistas da dona do Minipreço aprovam plano de Fridman
Investidor russo, dono de 29% do capital da companhia espanhola DIA, propõe aumentar capital após lançar OPA. Empresário português Luís Amaral, dono de 2%, era contra plano de Mikhail Fridman.
A espanhola DIA - Distribuidora Internacional de Alimentación, dona de 532 supermercados Minipreço/Dia e 71 drogarias Clarel em Portugal, viu hoje o seu destino complicar-se um pouco mais. Em assembleia-geral de accionistas foi aprovada esta quarta-feira, 20 de Março, a proposta de reforço de capital proposta por Mikhail Fridman.
O investidor russo, através da empresa LetterOne, propõe um aumento de capital de 500 milhões de euros, mas sujeita esta injecção à obtenção de mais 35,5% do capital para além dos 29,01% que já detém através de uma Oferta Pública de Aquisição.
A OPA, cuja intenção foi anunciada a 5 de Fevereiro ao mercado espanhol, onde a DIA é cotada, está ainda a ser analisada pelo regulador CNMV – Comisión Nacional del Mercado de Valores. O preço então anunciado por Fridman era de 0,67 euros por cada título da DIA e levou, na sessão de 5 de Fevereiro, a uma valorização de mais de 60% na praça de Madrid.
A questão é que não só o plano de Fridman foi apresentado como uma contraproposta ao trabalho que a gestão liderada por Borja de la Cierva tinha vindo a fazer desde Dezembro junto da banca credora da DIA, como o modelo de refinanciamento não agradou à maioria das 12 instituições financeiras que têm créditos sobre o grupo de distribuição, nem a alguns accionistas minoritários.
Nomeadamente, não agrada a um português. Luís Amaral, que controla o grupo polaco Eurocash, anunciou há uma semana, formalmente, que era dono de 2% do capital da DIA e que se opunha à OPA, defendendo que o modelo de capitalização de Fridman dilui o valor da companhia para os restantes accionistas.
A proposta do investidor russo, que foi hoje aprovada numa AG em que apenas 54,3% do capital social da DIA esteve representado, segundo noticiou a agência noticiosa espanhola EFE, adensa a situação difícil em que o grupo de distribuição está porque não tem o apoio de toda a banca, apesar de a LetterOne ter assegurado que garantiria o reforço de 500 milhões de euros.
Mesmo que Fridman obtenha sucesso na OPA – e fique com os 64,5% que pretende – nada garante que toda a banca credora (onde o Santander é líder destacado, com 500 milhões de euros cedidos à DIA) aceite o resto do plano. E, sobretudo, o aceite até Maio.
É no quinto mês deste ano que vencem as primeiras linhas de financiamento que a banca cedeu no final de 2018, evitando que a situação financeira da companhia de distribuição se deteriorasse ainda mais. No total, escrevem os jornais espanhóis, foram cedidos perto de 900 milhões de euros para dar novo fôlego à DIA – que tem presença em Espanha, Portugal, Brasil e Argentina. Outros 300 milhões de euros têm data de vencimento a 22 de Julho.
O plano da administração da DIA, ainda ontem reafirmado e hoje derrotado, pressupunha, por seu turno, um aumento de capital de 600 milhões de euros, pré-garantido pelo Morgan Stanley. E estabelecia um prazo até 2023 para a vigência do plano de refinanciamento junto à banca credora. O que, na prática, recusava a OPA da LetterOne.
Também derrotada hoje na assembleia-geral de accionistas da DIA foi a reeleição da KPMG como auditora das contas do grupo de distribuição, que cessa assim uma parceria de 20 anos.