Pelo menos 49 mortos em ataque terrorista a mesquitas na Nova Zelândia. Atentado foi transmitido em directo
O ataque na cidade de Christchurch foi transmitido em directo na Internet e o principal suspeito, que está detido, deixou um manifesto anti-imigrantes de 74 páginas, no qual procurou justificar o que fez.
O que se sabe até agora
- Pelo menos 49 mortos e 48 feridos em ataques que ocorreram durante as orações da tarde de sexta-feira;
- A primeira-ministra, Jacinda Ardern, classificou o ataque como um acto “terrorista” e disse que este é um dos dias “mais negros” da História da Nova Zelândia;
- Ardern disse que entre as vítimas devem estar vários refugiados e imigrantes. “Eles são nós”, disse, acrescentando que o atacante “não tem lugar na Nova Zelândia nem no mundo”;
- A polícia neozelandesa deteve quatro pessoas relacionadas com os disparos. Uma delas, um homem com mais de 20 anos, está acusado de homicídio, confirmou o comandante da polícia neozelandesa, Mike Bush;
- Um dos suspeitos é um cidadão australiano, que escreveu um manifesto anti-imigração com mais de 70 páginas;
- O manifesto, intitulado The Great Replacement (a grande substituição) começa com um poema de Dylan Thomas e detalha as motivações dos suspeitos: “criar uma atmosfera de medo” e “incitar à violência” contra os muçulmanos;
- “Mantenham-se dentro de casa até ordem em contrário”, pediu o comandante da polícia que disse que a população deve evitar mesquitas e edifícios públicos, que se encontram encerrados;
- Um dos ataques foi filmado em vídeo por um dos autores dos disparos; a polícia pediu à população para não divulgar o vídeo com “cenas chocantes”. O vídeo mostra um homem com uma arma semiautomática a entrar numa das mesquitas e abrir fogo sobre os que estavam em oração, abandonando depois o local num carro e continuando a disparar pela janela.
- Há tributos a acontecer em vários pontos do globo, como em Daca (Bangladesh), Bombaim (Índia), Carachi (Paquistão) e Wellington, capital da Nova Zelândia.
Pelo menos 49 pessoas morreram e 48 ficaram feridas num ataque a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia. O ataque foi transmitido em directo na Internet e o principal suspeito, que foi detido, deixou um manifesto anti-imigrantes de 74 páginas, no qual procurou justificar as acções.
O suspeito detido, um homem com mais de 20 anos, foi acusado de homicídio e será levado a tribunal sábado de manhã. Foram detidas outras três pessoas que, de acordo com o comandante da polícia neozelandesa, Mike Bush, estavam na posse de armas de fogo. Uma delas “pode não ter tido nada a ver com este incidente” e a polícia ainda está a tentar perceber “o nível de envolvimento” das outras duas pessoas.
“Seria errado assumir que não há mais ninguém [ligado ao ataque]”, afirmou Bush, questionado por um jornalista no local. Neste momento, as autoridades não procuram mais suspeitos. O comandante da polícia acrescentou que os quatro detidos não têm antecedentes criminais.
A conta do Twitter onde um dos suspeitos publicou imagens do ataque e o manifesto anti-imigração foi entretanto apagada. O manifesto, intitulado The Great Replacement (a grande substituição) arrancava com um poema de Dylan Thomas e detalhava as motivações do suspeito: “Criar uma atmosfera de medo” e “incitar à violência” contra muçulmanos.
Num excerto, citado pelo The Guardian, o autor do manifesto diz apoiar os autores de outros ataques semelhantes, como Anders Breivik (o autor do ataque em 2011 na Noruega, em que morreram 69 pessoas) e Darren Osbourne (o autor do ataque junto a uma mesquita em Londres, em 2017).
O directo do ataque, entretanto eliminado do Facebook, mostrava um homem armado com uma arma semiautomática a entrar numa das mesquitas e abrir fogo sobre os que estavam em oração, abandonando depois o local num carro. De acordo com a Associated Press, o suspeito tinha planos para atacar uma terceira mesquita, desta vez na cidade de Ashburton.
“Eles são nós”, diz primeira-ministra neozelandesa
A primeira-ministra, Jacinda Ardern, classificou este ataque como um acto terrorista e revelou que dez pessoas foram mortas na mesquita Linwood Masjid e 30 na mesquita de Al Noor, perto de Hagley Park. Jacinta Ardern acrescentou: é óbvio que os ataques foram planeados durante bastante tempo” e anunciou a decisão de subir o nível de ameaça à segurança nacional do mais baixo para o mais elevado.
Condenando as motivações do atacante, a primeira-ministra disse que entre as vítimas podem estar vários refugiados e imigrantes. “Eles são nós”, disse, acrescentando que o atacante “não tem lugar na Nova Zelândia nem no mundo”. Arden classificou este atentado como o pior ataque da história do país como um “dos dias mais negros da Nova Zelândia”.
Extremista de direita
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, afirmou que as autoridades australianas estão a ajudar na investigação e que os australianos ficaram chocados com o ataque, descrevendo o atirador como “um extremista de direita e um terrorista violento”.
A senadora australiana Mehreen Faruqi condenou o sentimento islamofóbico que grassa no país, alimentado por políticos “de extrema-direita, como Pauline Hanson e Fraser Anning”.
“Há sangue nas mãos dos políticos que incitam ao ódio. Para mim, há uma ligação clara entre as suas políticas de ódio e esta violência doentia e absurda em Christchurch”, lê-se no tweet.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, descreveu o ocorrido como “um ataque terrorista horroroso” e “um acto doentio de violência” e já deixou uma mensagem de condolências no Twitter. Também Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, usou a rede social para condenar o atentado: “Este ataque brutal em Christchurch não vai diminuir a tolerância e a decência pela qual a Nova Zelândia é conhecida”.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, também falou num “um crime hediondo": “A França está contra todas as formas de extremismo e actua com os seus parceiros contra o terrorismo no mundo”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, endereçou as condolências à Nova Zelândia pela morte de pelo menos 49 pessoas em ataques a duas mesquitas em Christchurch, falando num “ataque gravíssimo” ao estado de direito.
“Já tive oportunidade de enviar ao senhor governador-geral da Nova Zelândia as minhas condolências em nome do povo português, testemunhando a solidariedade perante aquilo que foi um ataque gravíssimo ao estado de direito democrático”, afirmou aos jornalistas à entrada para a conferência A Europa e o Presente, organizada pelo PÚBLICO, no Porto.
João Cravinho, ministro da Defesa português, deixou uma mensagem de solidariedade no Twitter: “Os ataques terroristas a duas mesquitas na Nova Zelândia são uma tragédia terrível, num país que até agora desconhecia a violência racista e anti-imigrante”.
Como resposta ao ataque, houve quem saísse à rua para prestar homenagem às vítimas. Há tributos a acontecer em Daca (Bangladesh), Bombaim (Índia), Carachi (Paquistão) e Wellington, capital da Nova Zelândia.
“Só ouvia tiros, tiros, tiros. Durou seis minutos ou mais”
Um dos membros da mesquita de Al Noor, Farid Ahmed, contou à BBC e à ABC Austrália como decorreu o ataque: “Só ouvia tiros, tiros, tiros. Durou seis minutos ou mais”.
“Estava dentro da mesquita, numa das salas laterais e o imã tinha começado o sermão, por isso toda a gente estava quieta, estava uma calma pacífica e silencioso como sempre”, começou por contar. “Depois de repente os tiros começaram. Começaram na sala principal por isso não vi quem estava a atirar, mas vi muitas pessoas a fugir pela sala onde estava e foi aí que vi que algumas tinham sangue no corpo e estavam a coxear”.
“Naquele momento percebi que era algo sério – algumas pessoas disseram-me ‘Está numa cadeira de rodas, tem de sair agora’ e eu encaminhei-me para o fundo do edifício, onde o meu carro estava estacionado. (…) Só ouvia os gritos e o choro. Vi algumas pessoas caírem mortas, algumas a fugir. Eu não podia porque estava numa cadeira de rosas e também não queria – receava o que podia acontecer às senhoras, o que podia acontecer à minha mulher”.
Ahmad Al-Mahmoud, que falou à ABC Austrália, conta que viu um homem a abrir fogo dentro de uma das mesquitas, antes de ter fugido através de uma janela partida. “Tinha uma arma enorme e muitas balas. Ele entrou e começou a disparar sobre toda a gente da mesquita”. “Fugi pelo parque de estacionamento e saltei pela vedação de trás”, recorda.
Número de feridos e mortos pode aumentar
O hospital de Christchurch informou que recebeu 48 pessoas, entre elas várias crianças, com ferimentos que “variam entre crítico e leve” provocados pelos disparos. “Há 12 blocos de operações actualmente em funcionamento e, devido à natureza de alguns dos ferimentos, muita gente irá precisar de várias cirurgias”, acrescenta o comunicado do hospital.
O número de feridos pode aumentar ainda porque, conforme avança o comunicado, “há mais pacientes a serem tratados noutros serviços de saúde da comunidade”.
A polícia neozelandesa, que procedeu à desactivação de explosivos num carro no centro da cidade de Christchurch, emitiu um comunicado a pedir que os meios de comunicação não divulguem as imagens do ataque com “cenas chocantes” – que, apesar dos pedidos, têm estado a ser transmitidas por vários meios de comunicação – e que os cidadãos de todo o país evitem mesquitas. Aos moradores em Christchurch, o comandante da polícia neozelandesa, Mike Bush, pediu que fechassem todas as portas “até terem notícias nossas novamente”.
Bush adiantou ainda que a polícia desactivou uma série de engenhos explosivos improvisados encontrados num veículo após o tiroteio numa das mesquitas e que está a desactivar engenhos semelhantes num segundo veículo.
Os ataques aconteceram durante a oração da tarde desta sexta-feira, pelas 12h55 (23h55 em Lisboa), nas mesquitas de Al Noor, em Hagley Park, e de Linwood Masjid. Desde o ataque que as autoridades reforçaram o patrulhamento junto das mesquitas do país. O mesmo está a acontecer em França e no Reino Unido.
Christchurch é a maior cidade da Ilha Sul da Nova Zelândia e a terceira maior cidade do país com cerca de 376,700 habitantes, localizada na costa leste da ilha e a norte da península de Banks. É a capital da região de Canterbury.