A três meses do assalto, chefe do Exército deu sim a obras em Tancos

Amorim Ribeiro também contou que não percebeu porque é que as reparações não foram feitas por ajuste directo. Chamava aos seus homens "canivetes suíços" porque faziam um pouco de tudo.

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O coronel Amorim Ribeiro à entrada da audição no Parlamento LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A 12 de Março de 2017, três meses antes do assalto aos paióis de Tancos, o então chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, deu o sim a um conjunto de obras naquelas instalações. Foi o coronel Amorim Ribeiro, comandante da Unidade de Apoio de Material do Exército (UMAE), que o revelou na tarde desta quinta-feira durante a 11.ª audição da comissão parlamentar de inquérito.

Num despacho, Rovisco Duarte deu directrizes para a substituição de parte da rede periférica exterior, do sistema de videovigilância que não funcionava desde 2006 e para a desmatação, o que em parte foi feito. O oficial relatou que após uma reunião, a 3 de Março de 2017, na qual deu conta do seu “estado de alma” sobre as necessidades da sua unidade, “o general chefe em visita no dia 8 é informado pelo estado-maior da UMAE da situação das instalações, entre as quais a de Tancos”.

“Pensava que até ao final de 2017 ia ter a rede e o sistema de videovigilância”, admitiu o coronel Amorim Ribeiro que, como os outros comandantes de unidades de Tancos, após o assalto exonerado durante 15 dias pelo ex-CEME e depois reintegrado para que as diligências da investigação do Exército “ocorressem sem constrangimento de qualquer natureza. Eram estes os termos, recordou, que constavam da decisão de Rovisco Duarte.

O oficial fez outras revelações. “Dei ordens verbais [para não retirarem a cassete] pois não fazia sentido, porque o sistema de videovigilância não funcionava”, declarou. “Era como se não existisse e numa próxima revisão das normas de execução permanentes aquele ponto caía”, assegurou.

Do mesmo modo, divulgou que, por decisão de Rovisco Duarte, em reunião de 29 de Novembro de 2016, Tancos e o campo de Santa Margarida eram prioridades para o SIVAC, o novo sistema de vigilância electrónica. Sobre os motivos que levaram à não concretização destas obras, o oficial não se pronunciou. Mas deixou pistas. “As obras obedecem a regras cada vez mais rigorosas, acho estranho que [a adjudicação] não tenha sido por ajuste directo”, observou.

O coronel Amorim Ribeiro reconheceu que a existência de várias unidades militares nos paióis de Tancos pôs em causa a unidade de comando. “Devia haver uma única unidade responsável da segurança e do controlo, mas quem tomou a decisão [contrária] devia ter as suas razões”, sentenciou. Destacou, por fim, o trabalho dos seus homens em pequenos arranjos, aos quais chamou “canivetes suíços, porque faziam um pouco de tudo”.

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