Alterações climáticas
Gronelândia: “Venham ver os glaciares antes que desapareçam”
O fenómeno do aquecimento global está a mudar o rosto da maior ilha do mundo. No Sudoeste da Gronelândia, em Tasiilaq, duas mil pessoas testemunham diariamente o impacto do processo de degelo. "Todos os anos vemos os glaciares, a paisagem, o permafrost [solo que se mantém sempre congelado], a derreter, a derreter", lamentou Julius Nielse, residente da colorida cidade que suporta um dos mais duros climas do planeta. O gronelandês é caçador desde que tem memória. “Não há neve”, descreve à agência Reuters. “As temperaturas estão altas e a água não congela.” A ausência de superfícies geladas dificulta a sua actividade por não permitir a livre circulação dos seus cães de trenó. Nielsen vê-se, por isso, desde há dez anos, forçado a encontrar rotas alternativas. “O conhecimento que nos foi transmitido pelos nossos antepassados já perdeu a validade e a situação é irreversível. Somos, todos os dias, obrigados a encontrar novas soluções.”
O guia turístico Lars Anker Moeller, residente na mesma cidade, também sente as limitações impostas pela perda de área circulável; começou, por isso, a tirar partido do aumento da área navegável. “Em vez de usarmos os barcos durante três meses, podemos usá-los durante quatro ou cinco”, esclarece o organizador dos passeios da agência Arctic-Dream, acrescentando que o agravamento das consequências das alterações climáticas até fez aumentar a procura dos seus serviços. “'Venham ver os glaciares antes que desapareçam' é o que se ouve vezes sem conta.”
A indústria pesqueira parece também beneficiar do aquecimento das águas. Peixes, como a cavala, que não tinham lugar nas águas geladas que rodeiam a grande ilha dinamarquesa, são agora uma das fontes de rendimento das empresas locais.
De acordo com um inquérito desenvolvido pelas universidades de Copenhaga e da Gronelândia, em conjunto com o Instituto de Investigação Urbana e Económica Kraks Fond, quatro em cada dez ilhéus acreditam que as alterações climáticas terão efeitos prejudiciais nas suas vidas. Apenas um em cada dez crê que serão benéficas. Oito em cada dez, no entanto, afirmam sentir na pele os efeitos deste fenómeno e considerá-lo extremamente relevante. Seja como for, Moeller não perde a esperança: “Os gronelandeses sempre foram bons a adaptar-se e, por isso, sobreviverão independentemente daquilo que o futuro lhes reserve.”