Miguel Macedo: O político que Rio e Relvas acreditavam ser inocente
Miguel Macedo foi autarca, deputado, secretário de Estado e ministro.
Deputado entre 1987 e 2011, Miguel Macedo foi o líder parlamentar do PSD que Passos Coelho escolheu quando foi eleito presidente do PSD, em 2010, e não estava no Parlamento por ter sido excluído das listas. Foi vereador, secretário de Estado, ministro e influente no Governo de Passos Coelho. Era visto como um político habilidoso que sabia negociar quando as áreas que tutelava eram afectadas pela austeridade. Tanto Rui Rio como Miguel Relvas mostraram satisfação com a decisão do tribunal por acreditarem na sua inocência.
“Sempre acreditei que Miguel Macedo estava inocente. Conheço-o há muitos anos e nunca o achei capaz de utilizar um cargo público em benefício próprio”, escreveu Rui Rio na rede social Twitter. O ex-ministro Miguel Relvas também disse ao PÚBLICO estar “feliz, muito feliz” e que “nunca” teve dúvidas de que “era inocente”.
A experiência governativa de Macedo começou ainda num Governo liderado por Cavaco Silva como secretário de Estado da Juventude. Voltou a interromper o mandato de deputado (sempre eleito pelo círculo de Braga) para ser secretário de Estado da Justiça entre 2002 e 2005, nos governos liderados por Durão Barroso e por Santana Lopes. Antes, entre 1993 e 1997, foi vereador em Braga.
Licenciado em direito e advogado, Miguel Macedo foi para a primeira fila da bancada social-democrata quando se tornou líder parlamentar já no fim do Governo de José Sócrates. Era quem interpelava o então primeiro-ministro, já que Passos Coelho (nem o secretário-geral Miguel Relvas) eram deputados, em intervenções consideradas assertivas. No PSD, Miguel Macedo fez parte da direcção de Marques Mendes, em que foi secretário-geral. Nessa direcção estiveram Passos Coelho e Paula Teixeira da Cruz, que viria a ser sua colega no Governo com a pasta da Justiça.
Quando o PSD ganhou as eleições legislativas de 2011, Passos Coelho escolheu-o para ministro da Administração Interna e era considerado o mais político dos ministros do PSD naquele Governo de coligação com o CDS de Paulo Portas.
Numa altura em que o Governo fazia cortes na despesa do Estado, incluindo nas forças de segurança, Miguel Macedo geriu os dossiers com muita negociação. Aliás, o então ministro conseguiu que os representantes de dez sindicatos da PSP o aplaudissem no Parlamento depois de anunciar que aquela força de segurança seria um corpo especial da função pública, no debate do Orçamento do Estado para 2014. Mas também teve uma crise quando os polícias se manifestaram em frente à Assembleia da República e quiseram invadir o edifício. Deu autorização para uma carga policial, gerando muita tensão nas forças de segurança. Foi, aliás, um dos momentos mais tensos de manifestações nas ruas durante o Governo PSD/CDS.
Miguel Macedo demitiu-se do cargo quando foi noticiada a investigação aos vistos gold em Novembro de 2014. Na altura, assegurou não ter “responsabilidade pessoal” no caso mas considerou que a sua autoridade ficou “diminuída”. Viria a ser constituído arguido no processo, mas entretanto já tinha desaparecido da vida política.
Próximo do ex-ministro, o antigo líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, que entrou para o Parlamento quando Miguel Macedo foi para o Governo, considera que “é impossível reparar todos os danos que sofreu”. Questionado pelo PÚBLICO sobre se considera que é possível um regresso à política, Hugo Soares afirma que Miguel Macedo “está em pleno gozo dos seus direitos civis e também políticos”.