O futuro destes homens vai marcar o mandato de Lucília Gago

Nunca o Ministério Público abriu tantas investigações aos chamados poderosos, ex-governantes, gestores ou mesmo agentes da justiça. Durante os próximos seis anos qual será o seu desfecho com a sucessora de Joana Marques Vidal na Procuradoria-Geral da República?

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Lucília Gago entra em funções a 12 de Outubro

António Mexia – O CEO

É um dos gestores mais bem pagos no país. Da área do PSD, António Mexia cumpriu o sonho de ser ministro aos 47 anos quando assumiu a pasta das Obras Públicas no curto Governo de Santana Lopes - um dos mais curtos desde a turbulência do pós-25 de Abril (durou entre Julho de 2004 e Março de 2005).

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Antes disso tinha sido alto quadro do BES, já se destacava no mundo empresarial e chegou a presidente da Galp, por convite do então ministro do PS Pina Moura. Depois da breve passagem pelo Governo aceitaria de novo um convite de outro socialista, José Sócrates, em 2005, para presidente executivo da EDP, cargo que mantém até hoje. Tem em casa a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial, entregue em 2014 pelo ex-Presidente da República Cavaco Silva (é a mesma distinção que receberam figuras como Alfredo da Silva, António Champalimaud, Manuel de Melo, Pedro Queiroz Pereira ou Zeinal Bava).

Mesmo depois da entrada de capital chinês na EDP e apesar de algum suspense, Mexia revelou-se inamovível. Em Janeiro, foi-lhe proposto fazer um quinto mandato à frente da EDP, já depois de ter sido constituído arguido. “É um sobrevivente”, dizem antigos colaboradores.

Ricardo Salgado – o patrão

Durante várias décadas Ricardo Salgado foi o “Dono Disto Tudo”, o mesmo é dizer: o GES deu emprego a muitos políticos ou foi porta de entrada de muitos gestores na política. É o caso de Manuel Pinho, Miguel Frasquilho, António Mexia, Murteira Nabo, Rui Machete ou Rui Vilar. Ao mesmo tempo, o BES tornava-se um dos financiadores mais assíduos de campanhas, desde partidos políticos (PSD, CDS e PS) a presidenciais (a família Espírito Santo foi o maior financiador de Cavaco Silva em 2006).

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As acusações a Ricardo Salgado abalaram o mundo financeiro mas também o político. Até o seu círculo de amizades foi passado a pente fino na opinião pública e o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que várias vezes passou férias com Salgado, é frequentemente confrontado com essa proximidade “tóxica”.

Miguel Macedo – o político

Muito próximo de Marques Mendes e com experiência de Governo, Miguel Macedo poderia constar na galeria de prováveis candidatos a líder do PSD se não estivesse a braços com um caso de justiça. Ocupava o cargo de ministro da Administração Interna do Governo de Passos Coelho, em 2014, quando se demitiu mal foi noticiado o processo dos vistos gold. Só viria a ser constituído arguido quase um ano depois. No momento da saída, recebeu elogios de quase todos os quadrantes políticos quando disse que o fazia por ter visto “diminuída” a sua autoridade.

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Advogado, entrou para o Parlamento em 1987 e foi sempre sucessivamente eleito deputado, com uma breve interrupção quando Pedro Passos Coelho entrou para a liderança do PSD. No entanto, pouco depois, este viria a convidá-lo para o seu Governo.

Luís Montenegro – o sucessor

Luís Montenegro foi líder parlamentar do PSD durante os Governos de Pedro Passos Coelho e tem a ambição de chegar a líder do partido. A dúvida é quando avançará: muito provavelmente só depois das próximas legislativas. Para isso, será também determinante saber se o processo em que está envolvido terá desfecho rápido. Trata-se do caso das viagens a França para assistir a jogos de Portugal no Euro 2016.

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Montenegro diz que pagou a viagem mas foi constituído arguido no processo que envolve também ex-secretários de Estado de António Costa, que aceitaram o convite por parte da Galp. Um deles é Fernando Rocha Andrade, um dos homens mais próximos de António Costa e que era secretário de Estado dos Assuntos Fiscais à data dos acontecimentos.

Também para Rocha Andrade, que voltou à actividade académica em Coimbra, o regresso à política activa está dependente do final deste caso que pode resultar em acusação ou ser arquivado.

José Sócrates – o primeiro

Ficará para a história por ter sido o primeiro líder do PS a conquistar a maioria absoluta e por ter sido o primeiro primeiro-ministro a ser arguido por alegados crimes de corrupção. O processo que envolve o “animal feroz”, como o próprio se descreveu, é, do ponto de vista político, difícil de gerir e já levou ao corte absoluto entre Sócrates e o PS de António Costa.

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O ex-PM entregou mesmo o cartão de militante, acusando o PS de não o ter defendido. A direcção socialista, que não se cansa de repetir “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”, teme que este julgamento queime eleitoralmente o partido e que as dúvidas levantadas sobre a conduta do antigo primeiro-ministro aumentem suspeições sobre toda a classe política.

A detenção de Sócrates, para interrogatório, ocorreu em Novembro de 2014, uma semana antes do congresso do PS. A acusação foi produzida três anos depois.

Rui Rangel – o juiz

Rui Rangel é um dos mais mediáticos juízes portugueses. Chegou a ser comentador da RTP, aceitava os vários convites da comunicação social para debater questões de justiça (a veia prolixa valeu-lhe até multas do Conselho Superior de Magistratura), apadrinhou a formação de um novo partido, o Nós, Cidadãos, foi um dos fundadores da Associação Juízes pela Cidadania e manteve relações próximas com o mundo do futebol, tendo chegado a candidatar-se à presidência do Benfica em 2012.

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Luís Filipe Vieira é presidente do clube desde 2003 e é suspeito no mesmo caso de ter subornado Rangel.

Manuel Pinho – o ministro

Manuel Pinho foi o “ministro-estrela” do Governo de Sócrates, apresentado como uma espécie de mago que ia puxar pelas empresas, promoveu o turismo de Portugal na piscina com Michael Phelps e anunciou donativos da EDP em terra de mineiros.

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A carreira política, contudo, terminou cedo e, de forma abrupta, quando num gesto infeliz respondeu com “corninhos” ao então líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares. Apresentou ali mesmo, no Parlamento, a demissão ao primeiro-ministro José Sócrates, que o continua a ter como amigo. Vive actualmente na China, onde dá aulas.

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