Conta-se que Givenchy criou um perfume para a sua musa, Audrey Hepburn, e que ela o usava sempre. Por vezes deixava um lenço ou outra peça perfumada no atelier do designer em Paris. Então, as outras clientes perguntavam que aroma era aquele e pediam ao criador para o replicar. Um dia, Givenchy disse à actriz que iria fazê-lo, e Hepburn respondeu-lhe: “Je l'interdit.” É assim que se chama o perfume: L‘Interdit. É isto que qualquer pessoa, homem ou mulher, procura num perfume, um aroma com o qual se identifique e que o torne único.
Mas como escolher um perfume? A opção passa por uma fragrância mais forte ou mais suave? E onde a colocar? Atrás das orelhas, no pescoço, nos pulsos? O perfumista Lourenço Lucena diz que “uma fragrância deve ser usada onde queremos ser cheirados, seja em partes mais ou menos visíveis”. Por exemplo, atrás das orelhas e dos pulsos, na nuca perto do pescoço, no peito ou, no caso dos homens, abaixo da maçã-de-adão, recomenda. Há mesmo quem ponha perfume nas dobras atrás dos joelhos e nos sovacos, acrescenta a engenheira química Vera Mata, dona da empresa de produtos perfumados e aromatização Ownya, que aromatiza as lojas do designer Luís Onofre; e já criou perfumes para várias marcas de roupa.
Todos estes locais do corpo têm muita irrigação sanguínea. “Nos pulsos, por exemplo, vêem-se logo as veias, logo são mais irrigados”, justifica a engenheira. E cada pessoa é livre de usar a quantidade que quiser. “Tem que ver com o gosto e o hábito de cada um”, acrescenta Lourenço Lucena, membro da Sociedade Francesa de Perfumistas.
No entanto, o especialista não recomenda que se friccione um pulso no outro. “Não se deve esfregar porque estáa a misturar-se a gordura que temos na pele com a molécula odorífera do perfume”, justifica o profissional, que é diplomado em Composição de Perfumes pela Cinquième Sens, em Paris. Ao fazer isso, está a alterar o perfume.
E o mesmo perfume pode ter um cheiro diferente consoante em quem se coloca? Sim. “Pode ter que ver com a oleosidade da pele e também com a temperatura média corporal”, responde a engenheira química. Se a pele for mais oleosa, vai reter durante mais tempo os compostos oleosos, explica Vera Mata, “e vai sentir-se no ar as notas mais aquosas da fragrância que se está a usar”.
Não comprar por impulso
Os dois especialistas concordam que tanto se pode colocar a fragrância na pele como na roupa, mas Lourenço Lucena alerta para os cuidados a ter para evitar manchas num lenço de seda, por exemplo. “Colocar a uma distância suficiente para que ao borrifar não manche a roupa”, aconselha.
Quanto tempo dura um perfume depois de aspergido? Depende. “Quanto mais alta for a temperatura do meu corpo, mais rápido o perfume desaparece”, diz Vera Mata. E a temperatura ambiente também conta, acrescenta: “Quanto mais fresco o ambiente exterior estiver, mais tempo o perfume demora a evaporar. Logo, no Inverno fica mais tempo.” Um bom perfume dura entre seis e oito horas, um que já dure 12 a 24 horas é “especial, tem compostos com matérias-primas fixativas e, logo, evaporam-se mais lentamente”, explica.
Em tempo de Natal, os perfumes são uma das opções de presente. Para Lourenço Lucena, a compra de um perfume não deve ser feita “de forma impulsiva”. Por isso, recomenda que se experimentem algumas fragrâncias nas tirinhas de papel que as perfumarias têm disponíveis para o efeito e que se vá seleccionando até reduzir a lista a quatro. Só depois se deve experimentar o perfume na pele, em sítios diferentes – por exemplo, borrifar nos pulsos e nos antebraços –; e, de seguida, esperar que o perfume evolua. Passado uma ou duas horas, o cheiro será certamente diferente, explica o perfumista. Só depois deste processo é que é possível perceber que há fragrâncias que têm uma duração na pele maior do que outras.
Lourenço Lucena diz que “oferecer um perfume é das coisas mais difíceis, a não ser que se conheça bem a pessoa e os seus gostos”, porque a probabilidade de errar “é grande, a menos que se saiba o perfume que a pessoa usa”. Vera Mara concorda e acrescenta que é preciso saber se a outra pessoa gosta mais de fragrâncias com notas amadeiradas, orientais, doces, florais ou até marítimas. “É tudo uma questão de gosto pessoal”, diz a engenheira química. “É um desafio”, conclui o perfumista.