Para trás fica uma paisagem de cortar a respiração com as piscinas naturais de água quente, o mar de um azul transparente que bate nas rochas vulcânicas da praia de areia escura quase preta, em São Miguel, Açores. O agradável aroma das velas acompanha a descida das escadas que conduzem à recepção do spa das Termas da Ferraria, que fizeram grande furor nos anos 1950 quando ali funcionava um hospital termal e os doentes desciam de burro a íngreme estrada e, três semanas depois, saíam a andar pelo seu próprio pé.
Foi por isso que “o povo começou a chamar de 'milagrosas' as águas salgadas termais que têm um teor de enxofre muito elevado”, conta o engenheiro Bruno Oliveira, responsável pelo actual espaço Spa Termal Termas da Ferraria que abriu há oito anos e “está, desde 1 de Abril deste ano, inscrito nas Termas de Portugal como tendo termalismo de bem-estar”.
No início de 2019, Bruno Oliveira espera ter um corpo clínico com médico hidrologista e fisioterapeuta com especialidade em termalismo na equipa. “O objectivo é ter programas terapêuticos com supervisão médica”, elucida. Antes disso, é preciso proceder à certificação das termas com classificação médico-hidrológica e legal da água para doenças de pele e músculo-esqueléticas.
No primeiro trimestre de 2019, o Inovação Tecnológica dos Açores (Inova), a entidade que analisa mensalmente 30 das 48 nascentes de água termal existentes nos Açores, deverá, então, começar um estudo à aplicabilidade das águas da Ferraria. João Carlos Nunes, do Inova, disse recentemente ao PÚBLICO que, apesar de o saber empírico afirmar que a água amarelada cura doenças de pele, tal só pode ser garantido depois de um estudo médico-hidrológico aplicado a utentes com doenças de pele. Um estudo monitorizado por um médico hidrologista que comprove a cura. “Consiste em registar evidência terapêuticas para fins medicinais”, referiu o também geólogo e professor universitário de vulcanologia. “Fazemos análises químicas e microbiológicas de controlo para assegurar que têm condições para serem usadas pelo público”, explica.
Bruno Oliveira acrescenta que já foram, entretanto, recolhidas e analisadas as águas, durante três anos. Enquanto espera pela certificação das águas, as termas funcionam como espaço de spa de bem-estar, onde “a água do mar, que é aquecida pelo vulcão, chega a uma temperatura de 62 graus centígrados que depois é misturada com água do mar fria até descer aos 37 graus”, descreve Bruno Oliveira. “Medimos a temperatura da água de hora a hora”, garante enquanto explica que o lugar da Ferraria tem duas nascentes de águas termais de origem vulcânica que aquecem as piscinas naturais e abastecem o seu complexo termal.
“Temos pessoas que nos procuram para o termalismo, nomeadamente através da talassoterapia, com banhos, sessões de relaxamento dentro de água, aproveitando todos os benefícios destas águas impares, que combinam da melhor forma as componentes de origem marinha e geotérmica”, descreve o responsável. Por aqui há vários tipos de massagens como a Jazz Massage (77 euros) e Azorean Stone Massage (80 euros). Ou ainda o envolvimento com algas e argila; massagem de relaxamento, relaxamento em água. “Nos packs de dia completo, o que tem mais sucesso é a 'Princesa por um dia', onde tentamos proporcionar um dia completo de relaxamento, sendo o relógio proibido”, realça.
Mas voltemos à recepção onde os passos seguem para a zona de descanso e jacuzzi com água termal arrefecida com água do mar entre os 37 e os 38,5 graus centígrados. E de seguida para a sauna, banho turco e depois para o corredor de contraste com água do mar fria. Depois, o convite é para dar umas braçadas na piscina interior, também com água termal arrefecida com água do mar, mas desta vez a uma temperatura entre os 36,5 e os 38 graus. “Temos uma bomba com cerca de 20 metros que extrai a água do mar”, elucida Daniela Estrela, técnica do spa. Lá fora a piscina exterior, igualmente com água do mar e água termal, convida a um momento de relaxamento mesmo nos dias mais cinzentos.
Se o apetite apertar, podemos sempre dar um salto ao restaurante com gastronomia típica, onde se pode experimentar Alcatra Regional e Polvo da Ilha Terceira.
“As termas contribuem para o desenvolvimento do turismo de saúde e de bem-estar na região”, elucida Bruno Oliveira. Assim como empregam dezenas de pessoas, acrescenta. “Somos, provavelmente, o maior empregador da freguesia que utiliza praticamente só recursos locais”, informa. “Temos famílias completas a trabalhar connosco.”
O PÚBLICO viajou até São Miguel a convite do Turismo dos Açores.