Fosun assumiu-se como o maior investidor privado chinês em Portugal
Fidelidade e BCP são duas bandeiras na mão do conglomerado financeiro, que rivaliza com o Estado chinês no peso que já tem na economia portuguesa.
A entrada do grupo chinês Fosun no mercado português foi tudo menos discreta, ao fazer uso dos bolsos fundos que tinha para se expandir nos mercados internacionais. Com o apoio de bancos estatais chineses, dinamizadores da estratégia Go global então preconizada por Pequim junto das empresas privadas do seu país, e forte capacidade de endividamento, a Fosun garantiu a compra de 80% do grupo segurador Fidelidade à Caixa Geral de Depósitos no início de 2014.
Cerca de dois anos antes deste processo de privatização, o qual viu ficarem pelo caminho concorrentes como o fundo norte-americano Apollo, o Estado chinês também fizera uma entrada com estrondo em Portugal, ao ganhar a privatização de uma fatia de 21% da EDP - passando, de forma pioneira, a ser o maior accionista de uma eléctrica europeia com presença internacional.
Em troca dos 80% - que seriam reforçados mais tarde para 85% por via do desinteresse dos trabalhadores a compra de acções – a Fosun pagou mais de mil milhões de euros. E depressa se tornou um dos maiores investidores em Portugal, num cruzamento de participações com o Estado chinês que envolve a EDP e a REN.
Pouco depois de entrar no mercado português, lançou-se por via da Fidelidade, liderada por Jorge Magalhães Correia, na corrida à Espírito Santo Saúde (actual Luz Saúde), enquadrada no colapso do BES/GES. Num processo muito disputado por vários concorrentes, no final ganhou quem pagou mais: a Fosun. Neste momento, e na sequência de uma oferta obrigatória ao capital detido pelos pequenos accionistas que não venderam na OPA, a Luz Saúde está prestes a ser detida a 100% pela Fosun/Fidelidade e a sair da bolsa.
Pelo meio, a Fidelidade foi expandindo a sua carteira de activos e hoje os investimentos da seguradora estão em empresas como a cervejeira chinesa Tsingtao, uma das maiores do mundo, a cadeia hoteleira Club Med, o operador turístico Thomas Cook e a retalhista de pronto-a-vestir Tom Tailor. Todas elas contam com capital da Fosun. Em Maio, fonte oficial da Fosun afirmou ao PÚBLICO que estes investimentos representavam “menos de 1% do total dos activos sob gestão da Fidelidade”.
Insucesso no Novo Banco e vitória no BCP
As ambições da Fosun de crescer em Portugal – e com isso na Europa – ficaram evidentes quando concorreu à compra do Novo Banco. Nesse caso, falhou, mas pouco tempo depois teve uma vitória com maior relevância: no final de 2016, através de um aumento de capital exclusivo, a Fosun pagou 175 milhões por 16,7% do BCP e assumiu-se como o maior accionista.
Pouco antes, e no meio do aperto que Pequim fez aos grandes grupos privados sinalizando excessos financeiros (com efeito de contágio aos grandes bancos chineses) e vontade de maior controlo, o líder da Fosun, Guo Guangchang, chegou a sair de cena durante uns dias num processo de investigação ligado às autoridades chinesas, mas o empresário e o grupo continuaram activos.
Actualmente, a Fosun já detém 27% daquele que é o maior banco privado em Portugal (Jorge Magalhães Correia é vice-presidente do conselho de administração, mesmo se o investimento é directo e não via Fidelidade), com presença em mercados como a Polónia, Angola e Moçambique. Com um novo presidente executivo, Miguel Maya (escolhido já com a Fosun enquanto maior accionista), o BCP anunciou há poucos dias o lançamento em Portugal da plataforma de pagamentos Alipay, do gigante chinês Alibaba, num cruzamento de interesses interligado com o aumento de turistas chineses em Portugal (218 mil hóspedes até Setembro, tendo subido 13%, com os gastos crescerem 21% até Agosto, para 97 milhões).
Hoje, a Fosun, criada em 1992 em Xangai, rivaliza com o Estado chinês em termos de liderança de investimento chinês em Portugal, e o cenário mais provável é o de reforço das suas posições.