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Na Coreia do Sul, há quem se feche numa prisão para fugir ao trabalho
Fugir para dentro da prisão é um conceito que poderá confundir as mentes mais convencionais. Longe de caber nesse rótulo estão cerca de dois mil sul-coreanos, que, para fugir à rotina, decidiram pagar 80 euros para passar 24 a 48 horas numa instituição prisional.
Prison Inside Me é o nome da “prisão faz-de-conta” onde Park Hye-ri, empregado de escritório de 28 anos, decidiu pernoitar. “Esta prisão dá-me a sensação de liberdade”, garantiu à Reuters, envergando o uniforme azul que lhe foi entregue à entrada. “Eu sou uma pessoa demasiado ocupada”, lamentou Park, no interior da sua cela de cinco metros quadrados — que contém uma casa de banho. “Nem sequer deveria estar aqui, dado o volume de trabalho que tenho em mãos. Mas decidi fazer uma pausa e olhar para dentro, para tentar perceber como melhorar a minha vida.” Além do típico traje de presidiário, foi-lhe atribuído um tapete de yoga (o substituto de uma cama), um conjunto de chá, uma caneta e um bloco de notas.
O dia é passado em silêncio e a solidão convida à meditação. As regras no interior são restritas: é proibido conversar com outros detidos, usar telemóveis ou relógios; as refeições são minimalistas: uma batata-doce cozida ao almoço, um batido de banana ao jantar e papas de arroz ao pequeno-almoço.
A procura deste tipo de experiência está intimamente ligada à crescente carga laboral suportada por cada sul-coreano. O ambiente empresarial do país, altamente especializado e competitivo, potencia a implementação de regras que colocam em risco a saúde física e mental dos trabalhadores. As 2024 horas de trabalho anual efectuadas, em média, por cada empregado sul-coreano reflectem-se num aumento da incidência de casos de burnout e suicídio.
A co-fundadora da empresa, Noh Ji-Hyang, encontrou inspiração para a criação da Prison Inside Me numa frase muito repetida pelo seu marido, um advogado que trabalhava mais de cem horas por semana. “Ele dizia que gostaria ir para a solitária durante uma semana ou duas para descansar e recuperar”, rememorou. A receita parece funcionar. “Após a estadia, as pessoas dizem ‘isto não é uma prisão; a verdadeira prisão é aquela para onde teremos de regressar após esta experiência’”.