Protestos contra caravana de imigrantes fazem subir a tensão em Tijuana
“Fora!”, gritam manifestantes para os recém-chegados. Presidente da câmara da cidade perto da fronteira descreveu a chegada de três mil migrantes como "uma avalanche".
Centenas de habitantes de Tijuana juntaram-se no centro da cidade para protestar. O motivo: a chegada, nos últimos dias, de cerca de três mil imigrantes da América Central que esperam passar para os Estados Unidos – “uma avalanche”, na descrição do presidente da câmara da cidade.
Os manifestantes envolveram-se em confrontos tanto com a polícia como com manifestantes pró-imigração, que faziam um contraprotesto a um quarteirão de distância.
Responsáveis esperam que o número de imigrantes em Tijuana aumente face ao grande número de chegadas e pouquíssimas saídas: os guardas de fronteira dos EUA estão a processar apenas 100 pedidos de asilo por dia no principal ponto de passagem de Tijuana para San Diego (Califórnia), a 27 quilómetros de distância.
No domingo, os manifestantes acusaram os recém-chegados de serem “ingratos” e um perigo para a cidade. “Não os queremos em Tijuana!” gritaram. Muitos manifestantes diziam não querer que os seus impostos servissem para os imigrantes, e outros pediram ao Governo que investigasse os migrantes para ter a certeza de que não têm antecedentes criminosos.
A maioria dos migrantes que chegaram a Tijuana veio das Honduras, mas também Guatemala e El Salvador, muitos a fugir de violência de gangues. “Estamos a fugir da violência”, dizia à revista Time Josue Caseres, de 24 anos, que está num ginásio que as autoridades transformaram em abrigo. “Como podem pensar que estamos a vir para aqui para ser violentos?”
"Não é justo"
O presidente da câmara de Tijuana, Juan Manuel Gastélum, diz que a cidade de 1,6 milhões de habitantes não está preparada para lidar com esta “avalanche”, calculando que os imigrantes vão ficar na cidade pelo menos seis meses enquanto esperam que os pedidos de asilo sejam entregues e analisados.
O presidente da câmara acusou ainda os imigrantes de terem sido “hostis” às autoridades locais e o Governo federal de não ter controlado a sua fronteira Sul, deixando entrar todas pessoas em trânsito no mês passado.
Gastélum anunciou que irá levar a cabo uma consulta pública sobre se a cidade deveria ter de continuar a receber as pessoas em trânsito e considerava cortar estradas para impedir mais chegadas. “Não é justo.”
Mas há outro lado: além do contraprotesto no domingo, muitos habitantes de Tijuana participam em distribuições de alimentos. Uma das habitantes que distribuía pizzas tem apenas 15 anos: “Gastei as minhas poupanças para ajudar estas pessoas. Principalmente as crianças, porque elas não têm culpa.”
A caravana começou a 12 de Outubro quando um grupo de 160 pessoas da cidade de San Pedro Sula, nas Honduras, se juntou num terminal rodoviário para fazer a viagem em grupo, para ter assim mais protecção de gangues e tentativas de exploração de redes criminosas. Há regulamente movimentos destes, normalmente de centenas de pessoas, mas desta vez uma partilha de um antigo político no Facebook fez espalhar a notícia e no dia da partida já se tinham juntado mais de mil pessoas ao grupo original.
Durante o caminho, através da Guatemala, até ao México, mais milhares de pessoas se foram juntando também a vários dos grupos, que foram tomando rotas diferentes.
Por outro lado, a caravana foi uma questão eleitoral nas recentes eleições nos EUA, com o Presidente, Donald Trump, a chamar a atenção para a caravana e anunciar que faria tudo para evitar chegadas indesejadas.
Trump também anunciou que negaria o direito de asilo às pessoas que entrem no país sem documentos ou sem ser através de pontos de entrada oficiais, na fronteira com o México, mas esta proposta está já a ser desafiada em tribunal.
Muitos dos integrantes da caravana não têm noção das restrições anunciadas pelos Estados Unidos, diz a agência Reuters. E a maioria não tem planos alternativos. “Não pensei no que vou fazer se não me deixarem entrar. Vou com fé em Deus de que tudo vai correr bem”, dizia à agência britânica Alejandro Martines, 24 anos, das Honduras.