Viver ativamente com demência
Segundo a OMS, o impacto da (in)atividade física na demência parece ser significativo: cerca de 10 milhões de novos casos poderiam ter sido evitados caso fossem satisfeitas as recomendações à prática de atividade física para a população idosa.
De acordo com a Federação Internacional de Alzheimer, no mundo, a cada três segundos, uma pessoa é diagnosticada com demência. As projeções demográficas preveem que até 2050 o número de pessoas com esta síndrome irá mais do que triplicar. Considerada uma das principais causas de incapacidade na população idosa, o impacto da demência vai muito para além da pessoa afetada, repercutindo-se igualmente nos cuidadores ao nível físico, social, psicológico e emocional e, de forma mais lata, à própria sociedade. De acordo com a Associação Alzheimer Portugal estima-se que demência afete cerca de 90.000 famílias portuguesas.
De carácter neurodegenerativo e irreversível, a doença de Alzheimer caracteriza-se pela diminuição da capacidade para desempenhar de forma autónoma e independente as atividades de vida diária instrumentais (como, por exemplo, cozinhar, preparar e tomar adequadamente a medicação, organizar as finanças) e básicas (como vestir-se e despir-se, tomar banho, entre outras). Ainda, também devido ao processo de envelhecimento biológico, assiste-se à diminuição da aptidão física e da capacidade para realizar as atividades do quotidiano sem esforço. Na demência, o declínio da componente física é enfatizado pelo ciclo vicioso entre o declínio cognitivo e funcional.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o impacto da (in)atividade física na demência parece ser significativo: cerca de 10 milhões de novos casos poderiam ter sido evitados caso fossem satisfeitas as recomendações à prática de atividade física para a população idosa (150 minutos por semana de exercícios que exijam a capacidade cardiorrespiratória de intensidade moderada). Com efeito, o exercício físico orientado e regular assume-se cada vez mais como uma importante medida preventiva do declínio funcional e cognitivo, apresentando também efeitos positivos ao nível da qualidade de vida individual e longevidade.
Após o diagnóstico, o papel da atividade física e do exercício físico é igualmente determinante. As limitações farmacológicas no tratamento da demência e na minimização do declínio cognitivo, físico e funcional justificam a pertinência de criar e desenvolver intervenções que, no mínimo, atenuem a deterioração global das pessoas com demência. Diversos estudos científicos demonstram o potencial do exercício físico na manutenção do desempenho cognitivo (ou atenuação do seu declínio), na capacidade funcional para desempenhar tarefas diárias, na qualidade de vida e, inclusive, na sobrecarga dos cuidadores.
Um programa de exercício físico controlado, prescrito e orientado por profissionais especializados, que inclua atividades que simulam tarefas do dia-a-dia, praticado de forma sistemática (pelo menos 2x por semana) e prolongada no tempo (no mínimo durante 12 semanas) poderá ser determinante na saúde e qualidade de vida da pessoa com demência e, consequentemente, influenciar positivamente aqueles que a rodeiam.
Enquanto a cura para a demência permanecer por alcançar, e as limitações farmacológicas do tratamento subsistirem, não poderemos descurar o efeito global e coadjuvante que o exercício físico poderá representar enquanto tratamento não-farmacológico. À semelhança de outras modalidades de intervenção, o exercício físico orientado por profissionais especializados e sensibilizados com a síndrome demencial poderá ser uma medida fidedigna na abordagem ao regime terapêutico da demência, qualquer que seja a sua causa. Esteja ele, pois, ao alcance do maior número de pessoas possível.
Centro de Investigação em Atividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) e Centro de Investigação e Intervenção em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) – Universidade do Porto
Os autores seguem o novo acordo ortográfico