Israel impede estudante americana de entrar no país por apoio a boicote

Lara Alqasem, 22 anos, tinha visto, mas está detida há mais de uma semana no aeroporto de Telavive. Autoridades israelitas dizem que se pedir desculpa e considerar o boicote ilegítimo pode entrar.

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Lara Alqassem, 22 anos, é ouvida num tribunal em Telavive AMIR COHEN/Reuters

As autoridades israelitas impediram a entrada no país a uma estudante de 22 anos que acusam de ser um perigo para Israel. Lara Alqasem, americana, cujos avós seriam palestinianos, pertenceu a um grupo pró-palestiniano e uma vez disse no Facebook que participaria num evento do movimento BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções.

Israel considera este movimento, que pede um boicote generalizado a empresas, artistas, instituições académicas de todo o Estado de Israel pela sua acção nos territórios ocupados, como uma ameaça vital e de raiz anti-semita. Em 2017, aprovou uma lei que impede a entrada a estrangeiros que tenham apoiado publicamente actividades do BDS.

Este já tinha sido o motivo invocado por Israel para suspender o visto de trabalho de um responsável da Human Rights Watch, que negou a acusação e acabou por não ver o visto suspenso.

Na audiência em tribunal, um dos advogados de Alqasem, Yotam Ben-Hillel, disse que a estudante tinha terminado a sua actividade no grupo Students for Justice meses antes da entrada em vigor da lei, em 2017, que ela apenas tinha clicado na opção “ir” a um evento ligado ao BDS (que entretanto teria apagado, pelo que não havia prova) e que já tinha prometido que não participaria em actividades ligadas ao BDS enquanto estivesse em Israel e ainda que não tencionava visitar a Cisjordânia.

Além disso, argumentou que neste caso o visto não deveria ter sido concedido e que o cancelamento de um visto só deveria acontecer em circunstâncias excepcionais.

O caso provocou um debate em Israel sobre se os valores democráticos estão a ser postos em causa por esta lei e se o caso de Alqasem, fechada numa cela do aeroporto de Telavive há mais de uma semana, só com visitas autorizadas dos seus advogados, não poderá virar-se contra Israel.

Este último é um dos argumentos da Universidade Hebraica de Jerusalém, que aceitou Alqasem para um programa de Justiça de Transição (os mecanismos após violência postos em marcha nas transições de regime, que incluem comissões de verdade ou fortalecimento das instituições para evitar repetições de abusos de direitos humanos). A universidade diz que uma recusa de uma estudante aceite e com visto só fará com que estrangeiros questionem a possibilidade de estudar em Israel, temendo que lhes possa acontecer o mesmo. 

“A recusa arbitrária da entrada no país de Alqasem com um visto aprovado pelo cônsul de Israel [em Miami] é algo que irá demover investigadores e estudantes de todo o mundo que planeiem vir a Israel”, disse o reitor da Universidade, Barak Medina, numa declaração.

Fortalecer o movimento

O ministro dos Assuntos Estratégicos, Gilad Erdan, diz que Alqasem é livre de regressar aos EUA; a estudante preferiu ficar no aeroporto de Telavive porque se voltar aos EUA e acabar por ser aceite em Israel não terá como custear mais um voo.

Na terça-feira, o ministro afirmou que Erdan poderia ficar no país, se dissesse que o BDS era uma forma de protesto ilegítima, algo que a sua advogada Leora Belchor disse que ela não iria fazer. “Ela não dirá que é uma forma ilegal de protesto, porque isso seria intelectualmente desonesto da sua parte.”

O juiz Kobi Vardi decidiu manter Alqasem detida “até que sejam clarificadas as alegações em relação ao risco que representa para o Estado”.

No diário Ha’aretz, de Telavive, a líder do partido de esquerda Meretz, Zehava Gal-On, critica que boicotes sejam apresentados como risco de segurança ou terror económico ou diplomático. Gal-On, que apoia boicote aos produtos dos colonatos judaicos em território ocupado, mas se opõe ao boicote generalizado ao Estado hebraico (como faz o movimento BDS), diz que esta detenção apenas fortalecerá o movimento.

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