Movimento independentista de Cabinda convida Costa a visitar território

Em comunicado, a Frente de Libertação de Cabinda apela ao primeiro-ministro português que interceda junto do Presidente angolano "a favor de uma paz negociada" para o enclave.

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O movimento independentista FLEC/FAC defende que Portugal pode ter "o papel principal nas negociações [com o Governo angolano] que levem ao estabelecimento definitivo da paz" em Cabinda Reuters/Philippe Wojazer

O movimento independentista da província angolana de Cabinda convidou o primeiro-ministro português, António Costa, que chega na segunda-feira a Luanda, a visitar o território encravado na RDCongo, indica um comunicado da FLEC/FAC divulgado neste domingo.

No documento, enviado hoje à agência Lusa, a Direcção Político-Militar da Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) adianta que o convite se destina a que António Costa possa "inteirar-se pessoalmente da realidade, longe da máquina de propaganda angolana, a encontrar os seus compatriotas cabindeses e reunir com as chefias militares e políticas do movimento independentista".

"A FLEC/FAC e todos os cabindeses acreditam que, por intermédio de Portugal e da vontade e coragem do senhor primeiro-ministro de Portugal, António Costa, uma solução que ponha fim ao conflito em Cabinda poderá ser encontrada", lê-se no comunicado, assinado por Emmanuel Nzita, presidente da FLEC/FAC, chefe do Governo provisório e também chefe supremo das FAC.

No comunicado o presidente do movimento pede ainda a António Costa que, durante a sua visita a Angola, interceda junto do presidente angolano João Lourenço "a favor de uma paz negociada para Cabinda", acrescenta. Emmanuel Nzita declara que a direcção político-militar da FLEC/FAC "ainda acredita" que Portugal pode ter "o papel principal nas negociações que levem ao estabelecimento definitivo da paz" em Cabinda.

A FLEC/FAC refere que António Costa deve ter em conta "os vínculos históricos e a herança que une as duas Nações" e "o apego inabalável dos cabindeses a Portugal".

Emmanuel Nzita diz ainda que deposita em António Costa "toda e total confiança para defender a dignidade do povo de Cabinda, acabar com o sofrimento do povo cabindês e dar um passo firme para o fim da guerra em Cabinda".

A atitude da FLEC/FAC na véspera da chegada de Costa a Angola contrasta com a que teve há dez dias, num outro comunicado em que era bem mais rude para com o primeiro-ministro português. Na altura, aquela organização dizia "lamentar o silêncio cúmplice" de António Costa perante a "repressão militar angolana no território ocupado", constituindo uma "atitude que envergonha todos os Estados-membros da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], sobretudo a nação portuguesa".

"Denunciamos o silêncio do Governo português, em particular a cumplicidade do primeiro-ministro português [António Costa] com a Angola de João Lourenço, que reprime a população indefesa de Cabinda", afirmava o comunicado, assinado por Jean-Claude Nzita, secretário para a Informação e Comunicação e porta-voz da FLEC/FAC.

No comunicado, o movimento refere que o Governo português "continua a fechar os olhos à política agressiva de Angola em Cabinda, o que é um escândalo histórico" e pede aos países-membros da CPLP "que reconheçam Cabinda como membro de pleno direito" da organização, "apesar da influência do Governo angolano na organização".

A FLEC luta pela independência de Cabinda, território encravado na costa atlântica da República Democrática do Congo (RDCongo), alegando que o enclave era um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.

Emmanuel Nzita é presidente da FLEC/FAC e sucedeu a Henrique N'zita Tiago, líder histórico do movimento independentista Cabinda, que morreu a 3 de Junho de 2016, aos 88 anos. Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes facções, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que continua a resistência armada contra a administração de Luanda.