Les Moonves, presidente da CBS, demite-se após novas acusações de assédio sexual
Moonves fazia parte do canal televisivo desde 1995 e nega as acusações. Não receberá qualquer indemnização financeira pela sua saída até que sejam conhecidos os resultados de uma investigação independente.
O director executivo do canal televisivo norte-americano CBS, Leslie Moonves, demitiu-se no domingo, horas depois de a revista New Yorker ter publicado um artigo com seis novas acusações de assédio sexual, relativas a casos registados entre 1980 e 2000.
Moonves é acusado por algumas mulheres de as ter obrigado a fazer sexo oral, de lhes ter exposto os corpos sem consentimento e de ter feito uso de violência física para as intimidar, diz o artigo, que foi escrito pelo repórter Ronan Farrow, distinguido com um Prémio Pulitzer pelas suas reportagens sobre Harvey Weinstein e o movimento de denúncia #MeToo. Farrow é também o autor de um primeiro artigo com acusações contra Leslie Moonves, em Julho. O director executivo da CBS é também acusado de prejudicar as carreiras das mulheres que se recusaram a ceder à sua intimidação. Entre as mulheres estão a escritora Jessica Pallingston e a gestora Phyllis Golden-Gottlieb.
O primeiro artigo, publicado em Julho, deu voz a acusações de actrizes, produtoras e argumentistas sobre “beijos violentos”, toques indesejados e represálias contra as suas carreiras. À data, no final de Julho, a CBS decidiu que Moonves se manteria no cargo, uma medida que contrastava com a reacção mais imediata de outros casos do género na indústria cinematográfica e de entretenimento.
O responsável estava desde então a negociar a sua saída da empresa – num valor que pode rondar os 100 milhões de dólares (86 milhões de euros) –, mas acabou por sair sem receber qualquer compensação, até que sejam conhecidos os resultados de uma investigação independente para averiguar as acusações de que é alvo. Em comunicado, a CBS adianta que a demissão de Moonves tem efeito imediato.
CBS doa 20 milhões a grupos feministas
Moonves, de 68 anos e marido da apresentadora Julie Chen, negou as acusações. Em comunicado, admitiu três dos encontros, mas disse que foram consentidas. “As acusações horríveis neste artigo são falsas. O que é verdade é que tive relações consentidas com três destas mulheres há uns 25 anos, antes de vir para a CBS. E nunca usei a minha posição para dificultar o progresso na carreira de mulheres. Nos meus 40 anos de trabalho, nunca tinha ouvido acusações tão perturbadoras”, justificou o director executivo, citado pela New Yorker.
Ainda assim, a CBS decidiu doar 20 milhões de dólares (cerca de 17 milhões de euros) a grupos que apoiem o movimento de denúncia de assédio sexual #MeToo e a grupos que apoiem a igualdade salarial entre homens e mulheres.
O director executivo da CBS é um dos homens mais poderosos do entretenimento e estava na empresa desde 1995, tendo assumido o cargo máximo em 2006. Enquanto não houver substituto, será Joseph Ianniello (que já integrava a equipa de administração da CBS e era um dos conselheiros de Moonves) a assumir os comandos do canal televisivo.
Após a eclosão do movimento #MeToo, a CBS foi palco de um despedimento por denúncia de assédio sexual: Charlie Rose, jornalista e apresentador do canal televisivo, foi despedido em Novembro, na sequência da denúncia de oito mulheres. Nos relatos publicados pelo Washington Post, Rose foi acusado pelas mulheres de avanços sexuais indesejados, tais como conversas telefónicas obscenas, andar nu à frente delas e apalpões. O apresentador pediu desculpa pelo seu comportamento, mas disse que algumas das acusações não eram totalmente verdadeiras.