CSI: CEO? Presidente da CBS mantém-se no cargo apesar de acusações de assédio

O poderoso Les Moonves foi acusado por seis mulheres de assédio e violência sexual e as acções do canal de CSI e A Teoria do Big Bang não param de cair na bolsa. Numa reacção "surpresa", CBS mantém Moonves no cargo enquanto investiga.

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Reuters/MIKE BLAKE

O poderoso presidente da CBS, Leslie Moonves, vai manter-se no cargo durante a investigação que a empresa do canal de televisão homónimo tem em curso sobre alegações de assédio e violência sexual por ele cometidos. É uma decisão saída de uma reunião do conselho de administração da empresa que, quando a investigação da revista New Yorker foi publicada, na sexta-feira passada, viu o valor das suas acções cair 6% na Bolsa de Nova Iorque devido às acusações de actrizes, produtoras e argumentistas sobre “beijos violentos”, toques indesejados e represálias nas carreiras.

“O conselho de administração está a seleccionar aconselhamento externo para levar a cabo uma investigação independente. Não foi tomada qualquer medida sobre este tema na reunião de hoje [segunda-feira nos EUA]”, lê-se no comunicado que alude às acusações de seis mulheres feitas após uma investigação jornalística de meses pelo repórter Ronan Farrow para a New Yorker. 

É também uma medida que contrasta com a reacção mais imediata que outros casos do género têm merecido na indústria do entretenimento norte-americano, desde a suspensão do programa do apresentador Chris Hardwicke até serem concluídas investigações internas (que não encontraram provas de má conduta) até ao inicial afastamento compulsivo de Harvey Weinstein da produtora e distribuidora com o seu nome. Num clima de elevada responsabilização pública, esta decisão dos responsáveis da CBS Corporation sobre o seu CEO está a ser recebida como “uma surpresa”, como classifica a revista Variety.

Les Moonves é um dos homens mais poderosos do entretenimento e do audiovisual nos EUA – e do mundo, dada a penetração que os produtos do canal têm no mercado internacional (os franchises CSI e NCIS, comédias como A Teoria do Big Bang e programas como Late Show with Stephen Colbert, todos em exibição em Portugal). Na noite de segunda-feira, a própria CBS falou do assunto, sem se saber ainda o estatuto de Moonves na empresa – foi através do apresentador e humorista Stephen Colbert, que no seu Late Show brincou e comentou de forma mais solene o caso. "Não sei por que é que estão a ir buscar serviços fora para isto. Podiam só usar o elenco do novo procedural da CBS: CSI: CEO?" 

Manter Les Moonves no cargo “é imprevidente e cobarde da parte do conselho de administração”, disse ao New York Times o professor da Escola de Gestão de Yale Jeffrey Sonnenfeld. Em Novembro, a mesma CBS despediu o célebre entrevistador Charlie Rose um dia depois das notícias sobre alegado assédio por si praticado. 

Os últimos meses têm sido marcados por reacções céleres e cautelosas das empresas perante a opinião pública quando surgem relatos e investigações jornalísticas que envolvem actos que vão desde os abordados no actual momento #MeToo até declarações impróprias ou humor com temas sensíveis – como foi o caso do realizador James Gunn, despedido há uma semana pela Disney do franchise Guardiões da Galáxia, filmes que tem dirigido com grande sucesso, por causa de tweets com uma década recuperados por figuras da alt-right norte-americana.

Segunda-feira, a Universidade Bucknell, onde Moonves se licenciou em 1971 e que em 2016 lhe atribuiu um doutoramento honoris causa, retirou o nome dele da página de alunos eméritos e o presidente reagiu à investigação da New  Yorker dizendo que “a má conduta sexual é inaceitável”. Stephen Colbert, que tal como Jon Stewart no Daily Show é um comentador da actualidade sem um posto nos programas de informação, reagiu ainda dizendo: "Não sei o que vai acontecer. Mas acredito na responsabilização, e não só para políticos com quem se discorda".

Ronan  Farrow é o autor de outras investigações nesta área, desde a que revelou o escândalo Harvey Weinstein à que incide sobre o ex-procurador de Nova Iorque Eric Schneiderman. Na última sexta-feira, foi Moonves o nome escrutinado após meses de investigação da conceituada revista. A actriz Illeana Douglas diz ter sido agarrada, “beijada violentamente” e imobilizada no gabinete de Moonves e ter escapado desse encontro no gabinete para ver o seu papel eliminado da série em que participava – contou-o ao então companheiro, o cineasta Martin Scorsese, e a outras pessoas que testemunham sobre o caso à New  Yorker.

A sua história, com contornos semelhantes no que toca ao isolamento e à ausência de assistentes, secretárias e outros funcionários nos momentos dos alegados ataques, é replicada em parte pela produtora Christine Peters, pela argumentista Dinah Kirgo e por outras duas mulheres que não quiseram ser identificadas. As consequências por não terem cedido aos avanços do presidente da empresa ter-se-ão feito sentir a vários níveis, dizem, nomeadamente perdendo a sua representação nas agências de talentos e ganhando reputação de ser “difícil de trabalhar” com elas.

“Reconheço que há décadas houve ocasiões em que posso ter tido abordagens incómodas para algumas mulheres. Foram erros que lamento profundamente”, disse Moonves em comunicado à New Yorker, frisando que respeitou o “não” das mulheres e que nunca usou a sua posição para prejudicar carreiras. Segundo a Variety, Les Moonves participou em parte da reunião de segunda-feira, dia em que as acções da CBS Corp. voltaram a desvalorizar 4%. O New York Times cita fontes que indicam que pelo menos dois membros do conselho de administração (14 pessoas, dos quais três são mulheres) se manifestaram preocupados com a continuidade de Moonves no cargo.

Moonves dirige a CBS há 12 anos e é o rosto da prosperidade da empresa, que detém ainda a editora Simon & Schuster e o canal Showtime, e da liderança nas audiências do canal-mãe, que recuperou de um último lugar cinzento entre os canais de sinal aberto para o domínio das noites com séries de polícias e crime conotadas com algum conservadorismo.

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