Fotografia
A casa premiada que um arquitecto desenhou como se fosse uma criança
Peçam a um grupo de crianças que desenhe uma casa e os resultados não vão variar muito: cinco linhas, um triângulo pousado num quadrado. Peçam ao arquitecto Filipe Saraiva para desenhar a própria casa e o resultado também não varia assim tanto. A habitação familiar do arquitecto foi construída em 2016, na Melroeira, em Ourém, numa área rural ligeiramente inclinada. Dois anos depois, venceu o International Architecture Awards 2018, prémio atribuído no final de Agosto pelo Centro Europeu de Arquitectura, Arte e Estudos Urbanos e pelo Chicago Athenaeum — Museu de Arquitectura e Design dos Estados Unidos. A entrega do prémio está marcada para Setembro, em Atenas, na Grécia. Além da Casa em Ourém foi distinguida uma outra casa portuguesa, em Vila do Conde — a Touguinhó III, da autoria do arquitecto Raulino Silva.
Devido ao “volume simples e perfeitamente regular” do projecto de Filipe Saraiva, toda a casa parece formada por uma só pedra, que “pousa no terreno”. Para a construção da habitação foram utilizados painéis pré-fabricados em betão preto, que potenciam duas mais-valias: “uma integração sóbria e em sintonia com a paisagem, bem como reduzir os custos de manutenção”. As escadas que levam ao alpendre assemelham-se quase a nenúfares, a boiar num lago. Fazem parte de outro possível caminho, mais longo, até à entrada principal. A primeira divisão da casa é uma sala de música, equipada com um gira-discos, discos de vinil e uma cadeira de descanso, com vista para a garagem. Uma escadaria em madeira clara, simples, liga as áreas comuns aos quartos e escritórios, no primeiro andar. É uma “casa de mim, para mim e para a minha família”, descreve o arquitecto, na memória descritiva do projecto. E uma prova de que a criança dentro de nós, se calhar, pode mesmo nunca desaparecer.