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Existe uma escola em Espanha que te ensina a ser pastor

Joan Alvado
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Joan Alvado

O avô do fotógrafo espanhol Joan Alvado trabalhou no sector primário toda a vida, mas nunca recomendou ao neto que seguisse as mesmas pisadas. “A minha geração ouviu repetidamente dizer que a agricultura não era uma profissão de futuro, que não era para nós”, explicou o fotógrafo ao P3, em entrevista. Enquanto criança e adolescente, Joan ajudou o avô continuamente nas lides agrícolas, mas acabou por ingressar na faculdade de engenharia e esquecer o trabalho na terra.

O seu interesse pela Escola de Pastores da Catalunha, que funciona há dez anos, não surgiu por acaso. “Eu podia ter sido um dos retratados deste projecto, se tivesse continuado o trabalho da terra.” A escola é direccionada a um público jovem, entre os 12 e os 35 anos, e recebe anualmente dezenas de candidaturas. “Os aspirantes a pastores chegam de toda a Catalunha, mas também um pouco de todo o território espanhol — há candidatos até das Ilhas Canárias. A maioria, no entanto, tem cerca de 30 anos e frequenta a escola por sentir vocação para a pastorícia. Os estudantes passam um mês a frequentar aulas teóricas e dedicam quatro meses a trabalho no terreno.”

Alvado registou o percurso dos estudantes da Escola de Pastores durante cinco anos, entre 2010 e 2014; o fotolivro Escola de Pastors, no entanto, foi editado recentemente, em 2018, pela editora catalã Pol-len. “Comecei a fotografá-los quando frequentavam o estágio curricular, mas nos últimos anos comecei a acompanhar alguns dos pastores que conseguiam estabelecer o seu próprio projecto — pessoas que conseguiram montar a própria quinta ou que conseguiram emprego como pastor por conta de outrem.”

A série fotográfica nasceu da vontade de sublinhar uma mensagem que Joan considera relevante, a da regeneração e rejuvenescimento do sector agrícola em Espanha. “A profissão de pastor é sempre entendida como nostálgica, à beira da extinção, como algo pertencente ao passado. Um pastor não é visto como alguém que tenha um emprego, muito menos um emprego com futuro ou atractivo para os jovens. Por isso, na primeira vez em que ouvi falar desta escola, fiquei surpreendido por perceber que existe interesse de tantos jovens no sector. Foi algo inesperado. Quis conhecê-los, perceber quem são e o que sentem.”

Joan deseja quebrar os clichés visuais associados à pastorícia e criar um documento que veicule uma imagem positiva do mundo rural, um testemunho do seu renascimento. Temeu, no início, que o tema fosse entendido como de interesse local, mas concluiu que existe nesta história algo de universal. “A maior parte das pessoas vive nas cidades, mas mantém um vínculo familiar com o mundo rural que não ultrapassa as duas gerações. Esta é uma história que tem a capacidade de nos tocar emocionalmente por esse motivo e eu acho isso muito bonito.” Joan não esquece nunca esse laço, motivo pelo qual dedicou o fotolivro ao avô, a quem chama, carinhosamente, “a minha escola de pastorícia pessoal”.

Joan Alvado, nascido em Valência, em 1979, e sediado em Barcelona, já viu o seu trabalho publicado em órgãos de comunicação como CNN, Newsweek, Washington Post, El Pais, Der Spiegel, La Reppublica e VICE e tem o arquivo fotográfico distribuído por várias agências, entre elas a AFP, a Getty Images e a Laif.

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