Brasil
Sair do país para criar uma vida: a fuga das mães venezuelanas
Faltam acompanhamento pré-natal, medicamentos e fraldas. Na Venezuela, os hospitais públicos têm vindo a registar dificuldades de funcionamento também devido à falta de energia e de água. Há protestos frequentes de médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde. “Como é que é suposto um bebé nascer nestas condições?”, perguntam-se as futuras mães. A única solução é atravessar a fronteira. Num hospital em Boa Vista, no Brasil, o nascimento de bebés de mães que fugiram do país vizinho tem vindo aumentar à medida que se adensa a crise venezuelana.
Segundo o que a agência Reuters apurou, no primeiro semestre de 2018 nasceram 571 bebés venezuelanos naquela maternidade, a única em Roraima. Em 2016, tinham nascido apenas 288. Os serviços sociais neste estado brasileiro estão “sobrecarregados”. Mas para estas famílias deixar a Venezuela é “a única escolha”. “O meu bebé teria morrido se eu tivesse ficado”, assegura Maria Teresa López, uma das mulheres que atravessaram a fronteira e que agora segura uma criança com menos de uma semana de vida nos braços.
Muitas das vezes, os filhos são tudo o que trazem da Venezuela. Quando chegam ao Brasil, ficam a viver num campo de refugiados, numa tenda disponibilizada pelas Nações Unidas. Na cidade de Boa Vista, 15% da população é venezuelana (50 mil pessoas). Todos os dias, milhares de pessoas deixam o país, culpa da galopante hiperinflação, instabilidade política, falta de mantimentos e clima de violência. Um total de 2,3 milhões, desde 2014. Ou seja, 7% da população do país. A maioria escolhe a Colômbia, o Peru, Equador e Brasil. Mas os países vizinhos já começaram a apertar as fronteiras. Em pouco mais de um ano, entre Janeiro de 2017 e Março de 2018, o governo português concedeu a nacionalidade portuguesa a 5800 lusodescendentes. O êxodo foi já descrito pelo Alto Comissariado das Nações Unidas como “uma das maiores deslocações populacionais da América Latina, em toda a história”. Também para estas mulheres, fotografadas pela Reuters, há uma outra vida a começar agora.