Música
Estamos todos “ligados”, do Sara até uma pedreira em Coura
Existe uma palavra que junta todas as pessoas de quem alguém gosta. Em tamashek, a língua falada pelos tuaregues, imarhan significa “aqueles com quem eu me preocupo”. E, durante a tarde desta sexta-feira, 17 de Agosto, os Imarhan, uma banda de Tamanrasset, no Sul da Argélia, preocuparam-se com as cerca de cem pessoas que se juntaram numa pedreira para os ouvir em Ferreira, Paredes de Coura (mais tarde, às 19h, haveriam de se preocupar com um grupo maior, reunido no palco Vodafone FM, já no recinto do festival).
A banda argelina faz parte da ”nova onda da música tuareg”. Somos “mais abertos ao mundo”, explicam-se, depois do concerto, ao P3. Com trajes tradicionais (que fazem questão de nem sempre usar) e guitarras cor da terra, cor do deserto, cantaram sobre “amizade” e “amor”, rodeados por uma montanha granítica e uma lagoa onde ninguém mergulha senão os helicópteros, em caso de incêndio. “O que nos importa mesmo são coisas que tanto eu como tu conhecemos.”
Os cinco músicos nasceram no início dos anos 90 na cidade de Tamanrasset e já não partilham o passado inscrito nos “blues dos desertos”, tocado pelos grupos nómadas do Sara (e que muitos defendem ser a origem dos blues norte-americanos). Ao estilo “mais meditativo”, atiram funk e rock. “Em vez de atravessarem o deserto, estes viajantes nómadas tornaram-se globais para mostrar as lutas de hoje”, lê-se, na descrição do álbum que apresentaram este ano, Temet (palavra que significa ligações, em português).
“Não ignoras a tua cultura”, disseram em entrevista ao Guardian, mas “podes pegar nas coisas boas das outras culturas”. O que não querem perder é outra palavra que representa velhos valores, até no “novo mundo de hoje”: ashak. Traduzimos, por ser importante, tanto no deserto do Sara como numa pedreira em Paredes de Coura: falam de respeito e dignidade