A economia portuguesa e o perigo do carro-vassoura
Em Portugal, entre 2010 e 2018, tanto o crescimento como o investimento tiveram um comportamento muito mau.
A OCDE acaba de publicar uma síntese dos principais indicadores económicos, que compara a evolução, entre 2010 com 2018, dos países que fazem parte daquela organização.
Em termos do Produto Interno Bruto, dos 43 países analisados nesses oito anos e com exceção da Itália e Grécia, todos cresceram mais que Portugal, como é o caso da Irlanda, que cresceu 70%, Polónia, Lituânia e Estónia 30%, Hungria 21%, República Checa 19% e Espanha 7%. Em média, a zona euro cresceu 10% e a União Europeia 12%. Portugal ficou-se pelos modestos 1,2%.
Quanto ao investimento, no mesmo período, só Portugal e Grécia apresentam uma evolução negativa, Portugal com investimento negativo de 14% e a Grécia com menos 48%. Todos os outros têm comportamento positivo, com destaque para a Irlanda, com 87% – uma diferença em relação a nós de 101 pontos percentuais –, Letónia, com uma diferença para melhor de 92 pontos percentuais, e a Espanha, que cresce o dobro. A conclusão é clara: em Portugal, entre 2010 e 2018, tanto o crescimento económico (o passado) como o investimento (a preparação do futuro) tiveram um comportamento muito mau.
A situação muda um pouco a partir de 2015. De então para cá o país viu o PIB crescer 5,75%, o que é bom quando comparado com o período de 2010 a 2015. Mas nesse mesmo espaço de tempo a Irlanda cresceu 20%, Eslovénia, Hungria, Polónia e Letónia cresceram mais de 10%, República Checa, Eslováquia, Lituânia e Estónia 9% e Espanha 8%, o que significa que todos estes países ficaram ainda mais distantes de nós.
Também no que se refere ao investimento, nota-se alguma recuperação. Entre 2015 e 2018, o investimento cresceu em Portugal 14%, que é superior ao verificado na média da zona euro e na União Europeia, mas não chega para recuperar a situação verificada em 2010 e está muito longe do caso da Irlanda, que, no mesmo período, viu o investimento crescer 30%, isto é, mais do dobro do verificado em Portugal.
Conclusão: se houve melhorias de 2015 para cá, apesar da conjuntura favorável e dificilmente repetível, elas ainda estão longe do que outros conseguiram e, por isso, não se justifica nenhum tipo de euforia. A situação recomenda prudência e uma clara definição de prioridades e áreas a reformar para, usando a linguagem do ciclismo de que muito gosto, não ficarmos cada vez mais perto do carro-vassoura.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico