O novo West Side Story na Broadway vai ser de Anne Teresa de Keersmaeker
Criadora belga junta-se ao encenador Ivo van Hove para uma nova abordagem ao "clássico" que é a coreografia original de Jerome Robbins para apresentar em 2019 em Nova Iorque.
O regresso à Broadway de West Side Story, o emblemático musical de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, vai fazer-se pela mão de dois belgas, a coreógrafa Anne Teresa de Keersmaeker e o encenador Ivo van Hove. Só sobe a um palco ainda não identificado dentro de ano e meio, mas já é dado como certo que seja uma abordagem muito diferente da que Jerome Robbins eternizou na sua primeira encenação de 1957 e à qual as várias “revivals” desde então têm ido beber.
Os Jets e os Sharks, Tony e Maria, avatares de Romeu e Julieta e Montéquios e Capuletos dos anos 1950 de Nova Iorque, voltam à Broadway em Dezembro de 2019, como anunciou o produtor Scott Rudin há uma semana. Será a primeira vez que De Keersmaeker e Van Hove colaboram. O retorno à morada dramatúrgica do Upper West Side foi uma ideia do próprio encenador e a mesma publicação regista que o seu propósito é descolar West Side Story da sua matriz coreográfica, que muito elogiam.
Afinal, “é um clássico em si mesmo” e a coreográfica é outro “clássico”, diz a coreógrafa à Hollywood Reporter. Jerome Robbins estabeleceu uma base cheia de rua e Anne Teresa De Keersmaeker, que classifica este como o “projecto ideal” para a juntar a Ivo van Hove, quer explorar o lado físico com o “desafio de oferecer uma nova leitura”, sobre a qual, como é expectável, ainda pouco quer revelar. Mas garante: “Não temos qualquer intenção de fazer algo que é contra Jerome Robbins”, mas sim uma “versão alternativa”. “Queremos trazê-la para o século XXI”.
Maria é de Porto Rico e um beijo com um americano fá-lo ver quão maravilhoso pode ser um som. Tony acaba de conhecer essa rapariga chamada Maria e o resto é história, de gangues, racismo, imigração - como canta Anita, a sua frustração por vezes fá-la desejar que a terra natal a que devota o coração se afunde no oceano - e amores desavindos, uma jazida que continua rica, explorada nos palcos em 1964, 1980 e 2009 na Broadway, e 2008 no West End. Na próxima temporada estará então no teatro e, quem sabe, terá concorrência cinematográfica – Steven Spielberg e Tony Kushner estão a trabalhar, ainda sem data, num remake da história de Arthur Laurents que Robert Wise e Robbins levaram ao cinema em 1961 para vencer o Óscar de Melhor Filme.
Mas para já, West Side Story será mesmo da Broadway e dos belgas. Uma coreógrafa que tem no seu trabalho uma forte pesquisa de relação entre corpo e música e que em 2012, ano em que foi Artista na Cidade de Lisboa, teve direito a retrospectiva em Portugal, e um encenador de origem flamenga que montou com David Bowie o seu canto de cisne teatral, o musical Lazarus, e já foi premiado por The Crucible, também na Broadway. Anne Teresa de Keersmaeker e Ivo van Hove vão começar as suas antestreias a 10 de Dezembro do próximo ano mas a estreia oficial está agendada para 6 de Fevereiro. A ideia é que “artistas de renome do presente tenham uma oportunidade de fazer algo de novo a partir das grandes obras do passado”, como disse Rudin à revista Hollywood Reporter.
O trio Sondheim, Bernstein (1918-1990) e Robbins (1918–1998) está na origem de um dos clássicos do teatro, e também do cinema, do século XX e os primeiros – ou seus familiares – saudaram este regresso a West Side Story por uma nova equipa. Mas como assinalou o New York Times, nem a família nem a Fundação Jerome Robbins se pronunciaram ainda publicamente sobre este retorno e sua premissa “alternativa” do seu trabalho.