Facebook não vai apagar notícias falsas mas quer dar-lhes menos destaque
Se o conteúdo não viola as normas da comunidade, não pode ser removido e as notícias falsas não violam as normas, explica responsável da rede social.
Afinal, o Facebook não vai remover notícias falsas do feed de notícias – vai apenas apresentá-las em último lugar. O conteúdo falso que circula na plataforma não viola as normas da comunidade, afirmou o responsável pelo feed de notícias, John Hegeman, numa conferência de imprensa na quarta-feira passada, nos escritórios da empresa em Nova Iorque.
Quem usa a rede social pode ter “pontos de vista muito diferentes”, defende o Facebook, e remover as publicações falsas seria “contrário aos princípios básicos da liberdade de expressão”. Em vez de serem removidas, as publicações que contenham informação falsa serão “despromovidas” no feed de notícias – isto é, aparecerão depois de histórias mais relevantes (e verdadeiras).
O tema da conferência de imprensa desta quarta-feira era sobre as medidas de combate às notícias falsas que o Facebook está a promover. O jornalista da CNN, Oliver Darcy, perguntou como é que a empresa de Zuckerberg podia estar a enfrentar o problema se permitia que páginas como a InfoWar se mantivessem na plataforma.
Infowar é um talk show online com mais de 900 mil seguidores no Facebook. Na plataforma principal de publicação dos conteúdos, o Youtube, Alex Jones, apresentador principal, soma mais de 2,4 milhões de subscritores. A plataforma veicula informação falsa e teorias da conspiração. Os boatos de que o massacre de Sandy Hook, em 2012, foi fabricado pelo Governo norte-americano e de que os democratas iam começar uma guerra civil a 4 de Julho são da sua autoria.
A rede social foi criada “para ser um lugar onde diferentes pessoas podem ter voz”, respondeu John Hegemen ao jornalista da CNN. “Acho que ser falso não viola os termos da comunidade.”
Também Sara Su, especialista no feed de notícias presente na conferência de imprensa, disse aos jornalistas que as teorias da conspiração da InfoWars podem ser “bastante problemáticas”. “Permitiremos que as pessoas publiquem [notícias falsas]? enquanto forma de expressão, mas não vamos continuar a mostrá-las no topo do feed de notícias”, disse uma porta-voz do Facebook à CNN, contactada depois da conferência de imprensa. “Dito isto, partilhar notícias falsas não viola as nossas normas da comunidade, mas temos estratégias para enfrentar quem partilha notícias falsas repetidamente”.
As declarações da porta-voz da empresa foram repetidas, mais tarde, na conta oficial do Twitter do Facebook: “Vemos páginas da esquerda e da direita a publicar o que acham ser opinião ou análises – ao que outros chamam notícias falsas. Acreditamos que banir essas páginas seria contra os princípios básicos da liberdade de expressão”, escreveu a empresa. Despromovê-los vai tirar-lhes “cerca de 80% de quaisquer visualizações futuras”, remover a monetização e os privilégios de publicidade.
No que respeita a notícias falsas, o Facebook já tentou várias estratégias. A plataforma experimentou mostrar um sinal de aviso vermelho junto de artigos considerados falsos pelos verificadores de factos, mas voltou atrás porque esta abordagem “entrincheirou crenças profundamente enraizadas”, cita a BBC.
Na Europa, a rede social lançou um inquérito onde perguntava aos utilizadores quais são as fontes de notícias nas quais confiam. A ideia é usar as respostas na mudança do feed de notícias para dar prioridade aos meios de comunicação que os utilizadores mais confiam. E em 2017 criou o Facebook Journalism Project, um projecto jornalístico para tentar combater a proliferação de notícias falsas.
O Facebook tem estado sob escrutínio pelo seu papel na publicação de notícias falsas e na protecção da privacidade dos utilizadores, nomeadamente pelo envolvimento no caso Cambridge Analytica. Ainda esta semana foi multado em meio milhão pela agência britânica de protecção de dados.