Simpatia pelo diabo
A história de Pablo Escobar e da sua relação com uma jornalista da televisão colombiana: podia ser um filme sobre o magnetismo do Mal, mas poucas vezes entreabre a porta à amoralidade.
Léon de Aranoa tarda em dar sequência ao belo filme com que em Portugal o descobrimos, Às Segundas ao Sol, no princípio da década passada. Do lado extremamente “local” desse filme (que seguia um grupo de desempregados na Galiza) passou aos temas “internacionais”— o último dele que cá se estreou passava-se na Bósnia (Um Dia Perfeito), e este viaja até à Colômbia. Para contar a história de Pablo Escobar e da sua relação, nos anos 80, com uma famosa jornalista da televisão colombiana. Podia ser um filme sobre o magnetismo do Mal, sobre a atracção (e a simpatia) pelo diabo, como nalguns diálogos, nas poucas vezes em que Aranoa entreabre a porta à amoralidade (para a fechar logo a seguir), a personagem da jornalista (Penélope Cruz) parece admitir e sugerir.
Nesse sentido, Amar Pablo, Odiar Escobar tanto podia ser comédia sulfurosa como melodrama doentio. Mas não é uma coisa nem outra, e a relação entre os dois (até por debilidade da caracterização das personagens) até acaba por ceder o terreno a uma espécie de lógica de comboio-fantasma— como se a personagem de Cruz fosse só o ponto de vista para uma incursão nos domínios de Escobar (que Javier Bardem interpreta sempre num over the top grotesco). A partir de certa altura Aranoa quase que desiste do pressuposto narrativo, para afunilar o filme nas convenções do policial, à medida que as autoridades apertam o cerco ao traficante. E assim, ziguezagueante, sem explorar a fundo nenhum dos seus elementos mais ricos, vai-se auto-destruindo até à completa irrelevância.