O “artivismo” também se faz com plástico do mar
Retratos coloridos, colecções de bonecas, de chupetas ou até um jardim. Estas são algumas das possibilidades daquilo que se pode fazer com o plástico que o mar devolve à terra — pelo menos com Ricardo Nicolau de Almeida. O artista portuense dedica-se a fazer beach trash art (arte com lixo das praias, portanto) e constrói imagens que têm tanto de belo como de assustador, como se pode ver na sua conta de Instagram.
Ao P3, Ricardo explica que sempre teve uma relação forte com o mar, mas foi a observação da natureza conjugada com o aumento da poluição que o fizeram pensar mais sobre o assunto. Percebeu que tinha de ser "artivista" e começou a trabalhar com o lixo da praia: "Juntei a necessidade de mostrar o problema com o meu trabalho criativo", afirma. Era 2014 e, nesta altura, apesar de trabalhar com todo o tipo de lixo encontrado no mar, conseguiu reunir uma colecção de objectos de plástico que, há cerca de dois anos, começaram a ser os protagonistas do seu trabalho.
Faz recolhas de lixo sozinho, na maior parte das vezes, mas, no mês passado, na praia da Aguda, em Vila Nova de Gaia, promoveu uma limpeza colectiva. O plástico recolhido deu origem a um mural (imagem 15). São acções como esta, acredita, que despertam mais consciências, por ser dada a oportunidade de as pessoas participarem no processo de recolha e construção. "A recolha é quase um momento de humor", afirma. Normalmente, gosta de procurar objectos na praia do Cabedelo, no Porto, "porque é um sítio onde as máquinas de limpeza não entram e o lixo se vai acumulando", explica. Cigarros, cotonetes e palhinhas são os objectos que encontra com mais frequência, mas há de tudo, desde bonecas e chupetas até a uma imagem de uma santa partida.
O artista, que não se considera "radical", lamenta que se tenha atingido um ponto de "exagero" no que diz respeito ao consumo e desperdício de plástico. A mudança passa por todos, sublinha. É como a "metáfora do comboio em andamento": é difícil parar, mas se todos colaborarem é possível.