Um espectáculo de circo onde os animais também fazem de humanos

Os animais interagem com os artistas de forma “poética”, a mostrar que não se comunica apenas com a voz nem se dança só com as pernas. Acrobatas, músicos, bailarinos e cantores estão em palco com dois cavalos e quatro pássaros.

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Marta Garcia
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Quando os animais entram no circo e são tratados como gente — assim podia começar a história do espectáculo Bestias, que está a decorrer em Odeceixe até ao próximo domingo. “Já vi pessoas da assistência a chorar”, diz Giacomo Scalisi, um dos coordenadores do projecto Lavrar o Mar, uma iniciativa que está a dinamizar, pela via cultural, os territórios de baixa densidade nos concelhos de Monchique e Aljezur. A proposta é ver o mar a partir do interior da região e viajar no tempo e na história da humanidade.

Em palco, a contracenar com acrobatas, músicos e bailarinos estão quatro pássaros e dois cavalos. Entre os intérpretes “estabelece-se uma relação poética e filosófica” que nos remete para a pergunta: “Que fazemos neste mundo?” O espectáculo está a cargo da companhia francesa Baro d’Evel, que usa várias linguagens para atingir a sensibilidade dos espectadores. “Há uma interacção muito grande”, sublinha Scalisi, destacando a importância de levar este tipo de evento a lugares onde, habitualmente, pouco acontece em termos culturais. O diálogo entre animais e humanos decorre de forma natural, através da palavra, da música e da dança. “Acho que o espectáculo é bestial”, sintetiza Madalena Victorino, também responsável pelo Lavrar o Mar. O novo circo, diz, tem “um ponto comum” com outras linguagens como a dança, a música ao vivo e a acrobacia.

A iniciativa insere-se no programa Algarve 365, promovido pelas secretarias de Estado do Turismo e da Cultura, que enriquece a oferta cultural da região entre Outubro a Maio, o período da época baixa turística. Para a realização do Bestias foi montada uma tenda no campo de futebol de Malhadais (Odeceixe). As cenas desenrolam-se num palco central, mas atrás dos espectadores há um corredor onde os animais circulam, ajudando a criar a atmosfera de proximidade que os artistas procuram alcançar quando estão em cena. Há momentos, comenta Giacomo Scalisi, que “os animais parecem humanos e os humanos transformam-se em animais”. Estamos no circo e o riso tem via aberta em qualquer momento. Os cavalos Bonito, Shengo e as aves Gus, Farouche e Midinette não batem palmas de agradecimento pela presença maciça dos espectadores, mas sabem retribuir a simpatia com gestos. No palco, diz Madalena Victorino, “estabelece-se uma democracia, em que ficamos a admirar quem será mais humano, o homem ou o animal, e não ficam assim tão distantes um do outro — a relação é muito forte”.

A lotação é de 368 pessoas, os bilhetes custam sete euros para o público em geral, cinco euros para as crianças. O espectáculo de amanhã está com lotação esgotada.

O presidente da Câmara de Monchique, Rui André, elogia o projecto Lavrar o Mar pelo facto de se tratar de uma forma de “trazer estes a territórios (Aljezur e Monchique) uma programação regular e continuada que de outra forma não existiria”. Por outro lado, destaca o facto de os programadores, Madalena Victorino e Giacomo Scalisi, “conseguirem envolver as pessoas locais, levando-as a participar directamente nos eventos”. A última iniciativa, recorda, foi um espectáculo montado com um grupo de idosos dentro das piscinas municipais — “o resultado foi um êxito”. Mas, anteriormente, já tinham realizado outras actividades culturais nas destilarias de medronho, em que actores profissionais contracenaram com gente da terra.

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