Trabalhadores do Opart exigem mudanças "drásticas" e ameaçam com formas de luta

Concentrados frente ao Ministério da Cultura, cantores, músicos, bailarinos e administrativos contestam regulamento interno do Opart. A CNB quer dançar mais clássicos.

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Daniel Rocha

Representantes sindicais dos trabalhadores do Organismo de Produção Artística (Opart) afirmaram esta terça-feira, em Lisboa, que, caso não surjam alterações "drásticas" na proposta de regulamento interno, apresentada pela administração desta entidade, vão recorrer a várias formas de luta.

"Se não houver uma resposta efectiva, rápida e imediata sobre a proposta da administração, se ela se mantiver como está, vamos avaliar com os trabalhadores várias formas de luta", disse o dirigente sindical André Albuquerque, no final de uma reunião com o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado.

André Albuquerque falava aos jornalistas no final de uma reunião de dirigentes do Cena-STE – Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos, com a tutela da Cultura, para apresentação de várias reivindicações de trabalhadores da Companhia Nacional de Bailado (CNB), da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP) e do Teatro Nacional de São Carlos, tutelados pelo Opart.

Entre essas formas de luta está a possibilidade de protestos durante o Festival ao Largo, que decorre no Verão, em Lisboa, segundo os sindicatos.

Cerca de 70 trabalhadores, de cantores, músicos, bailarinos a administrativos, estiveram concentrados durante toda a reunião, que durou quase duas horas, em frente ao Palácio Nacional da Ajuda, onde funciona o Ministério da Cultura.

"Resgate da missão artística no Opart", "Sala de ensaio para a OSP – 25 anos à espera", "Estatuto do bailarino – 26 anos de luta – CNB", "Não ao corte orçamental! Cultura acima de 0%" eram as reivindicações que os trabalhadores empunhavam, em faixas, separados da entrada do palácio por agentes da PSP e um gradeamento de metal.

Questionado pela agência Lusa sobre as possíveis formas de luta a organizar, André Albuquerque, coordenador do Cena-STE, indicou que "a questão da negociação do regulamento de pessoal será fulcral para saber se haverá ou não protestos".

"Não queremos que o regulamento seja aplicado unilateralmente", disse o responsável sobre um documento que ainda não está totalmente finalizado, mas de que os sindicatos já tiveram conhecimento e que pretendem negociar, pois os trabalhadores estão descontentes com vários aspectos.

"Neste momento temos discordâncias grandes sobre a proposta do Conselho de Administração, que transmitimos ao Ministério da Cultura", indicou.

Sobre o resultado da reunião com a tutela, o dirigente sindical disse que foi "positiva": "Não ficámos satisfeitos nem insatisfeitos. Precisamos de ver resultados práticos".

Entre as reivindicações estão uma sala de orquestra, sobre a qual lhes foi dito que será disponibilizada até ao final da legislatura, "mas que, provavelmente, terá de sofrer obras", e os sindicatos pretendem que o processo seja agilizado até Setembro.

Paulo Ribeiro não comenta

"É urgentíssimo que os precários sejam integrados no quadro dos trabalhadores, porque tem reflexos na missão artística", prosseguiu.

A missão artística da CNB e da OSP também é uma das grandes preocupações dos trabalhadores e dos sindicatos, sendo que se agravou "no caso da Companhia Nacional de Bailado, porque o relacionamento com a direcção artística se tem degradado nos últimos tempos, e uma companhia nacional tem de dançar mais clássicos", declarou André Albuquerque.

"A situação está a ser acompanhada", disse a tutela aos sindicatos, e "há já uma alteração de posição da tutela em relação à situação transmitida em Novembro, porque nessa altura não havia salas com 40 ou 50 espectadores, e aconteceu neste último programa da companhia".

"Esperamos que essa situação seja alterada na próxima programação", disse ainda André Albuquerque, defendendo que os trabalhadores da casa tenham uma palavra maior a dizer sobre a definição artística da programação, alteração que, segundo disse, "a tutela vê com bons olhos".

Contactada pela agência Lusa para uma reacção da direcção artística, da responsabilidade do coreógrafo Paulo Ribeiro, a esta situação, fonte da comunicação da CNB respondeu: "O director artístico não comenta".

O Cena-STE espera ainda que, também no caso da CNB, "o estatuto do bailarino possa estar já reflectido neste novo regulamento", que se encontra em preparação.

No passado dia 5 de Março, cerca de 200 trabalhadores do Opart, entre cantores e bailarinos, também se tinham manifestado numa concentração em frente ao Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, após a realização de um plenário, para exigirem a resolução da "suborçamentação e precariedade", que dizem afectar a instituição.