Rio lamenta “desproporção brutal” que levou à demissão de Barreiras Duarte

O líder do PSD foi entrevistado pela Lusa em Bruxelas, onde participa pela primeira vez na cimeira do PPE.

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Rui Rio deu entrevista à agência Lusa Miguel Manso

O presidente do PSD, Rui Rio, considerou esta quarta-feira que a mudança no cargo de secretário-geral do partido que teve de operar na sequência da demissão de Feliciano Barreiras Duarte se deveu a uma “desproporção brutal” do caso.

Em entrevista à Agência Lusa, em Bruxelas, antes de participar pela primeira vez numa reunião do Partido Popular Europeu (PPE), Rui Rio, questionado sobre a demissão de Barreiras Duarte e a consequente nomeação de José Silvano para secretário-geral do PSD, comentou que “se há coisa que aconteceu foi ter havido uma desproporção brutal entre aquilo que pudesse ser ou que era o problema e aquilo que foi o impacto mediático, que foi de uma desproporção absolutamente exagerada”.

“E todos vão ver com o decorrer do tempo, porque o tempo é o melhor conselheiro, que eu tenho razão. Houve uma desproporção brutal e, portanto, a última coisa que eu tenho a fazer é aumentar a desproporção. Portanto, o problema está resolvido, ponto final parágrafo”, disse o presidente do PSD.

Na passada segunda-feira, o deputado José Silvano foi indicado como o novo secretário-geral do PSD, depois de, no domingo, Feliciano Barreiras Duarte ter anunciado a sua demissão de “forma irrevogável” ao presidente do partido, após uma semana de notícias sobre irregularidades no seu currículo e uma alegada falsidade na morada que indicou no Parlamento.

Em comunicado, Barreiras Duarte considerou que os “ataques” de que estava a ser alvo o prejudicaram gravemente e à sua família, bem como a direcção do PSD.

Esta foi a primeira baixa na direcção do novo presidente do PSD e acontece exactamente um mês depois do Congresso do partido, que se realizou entre 16 e 18 de Fevereiro.

Na Europa, não há lugar para oposição

Em matérias como a negociação do próximo orçamento da União Europeia, o presidente do PSD disse que “não há lugar para oposição”, mas apenas “para ajudar Portugal”, e admitiu uma “comunhão de ideias quase em absoluto” com o Governo.

Rui Rio exolicou que, em dossiês europeus, “aquilo que para Portugal é mais relevante é a questão do orçamento comunitário” e a ameaça de cortes nos fundos estruturais em função da saída do Reino Unido

Apontando que, à luz do ‘Brexit’, “o orçamento comunitário tem uma quebra à volta dos 12 mil milhões de euros, e pode haver a tendência de esses 12 mil milhões de euros, ou grande parte deles, serem retirados à política de coesão”, o presidente do PSD sublinhou que tal seria extremamente prejudicial para os países da coesão, como Portugal, e garantiu que o seu partido está ao lado do Governo de António Costa para defender os interesses do país.

“Para Portugal era francamente negativo se, neste momento, os dinheiros que nós temos da Europa para o nosso desenvolvimento e investimentos viessem a levar um corte muito grande. E por isso é que, logo a seguir ao congresso [do PSD] me disponibilizei completamente para dialogar com o Governo português nessa matéria, no sentido de reforçar a força do Governo português em Bruxelas. Porque aqui não há lugar para oposição, aqui há lugar para ajudar Portugal”, afirmou.

Nesse sentido, Rui Rio disse concordar com as ideias que o primeiro-ministro tem defendido em Bruxelas no sentido de aumentar as receitas do orçamento comunitário “para cobrir as que saem por força da saída do Reino Unido”, e, se necessário for, através de uma combinação de aumento das contribuições e de taxas europeias, desde que não incidam sobre os cidadãos portugueses, até porque essa é uma matéria de soberania nacional.

“Essas mais receitas no limite dos limites podem implicar um maior contributo dos Estados-membros e, se assim tiver que ser, não nos podemos esquecer que Portugal recebe mais do que aquilo que entrega”, referiu.

Já quando aos chamados “impostos europeus”, um termo que considera “mal-usado, porque o lançamento de impostos é uma matéria de soberania dos parlamentos nacionais e quem pode lançar impostos sobre os cidadãos portugueses é o parlamento português”, o líder social-democrata admitiu a imposição de taxas, como por exemplo sobre os movimentos financeiros ou sobre as plataformas digitais, além de outro tipos de receitas, como a canalização de parte dos lucros do Banco Central Europeu para os cofres comunitários.

O presidente do PSD adiantou ainda que tem mantido conversações com o Governo e declarou que “não há uma comunhão de ideias em absoluto, mas quase”, admitindo que, no final, a solução para um aumento das receitas da União Europeia de modo a que a política de coesão não seja penalizada “pode ter que ser um ‘mix’ entre aumento das contribuições dos Estados-membros e novas taxas, novas receitas”.

“Quando aquilo que pretendemos todos é defender Portugal, nós estamos todos empenhados numa posição comum porque estamos todos com um objectivo comum. Na vida partidária infelizmente normalmente não é assim, é o contrário: procura-se é divergir e quando a divergência não existe, inventa-se a divergência. Aqui não há nada para inventar. Aqui há que defender o interesse de Portugal”, reforçou.