Marcelo não comenta demissão no PSD, mas recorda que “não vale tudo na política”
“Há valores fundamentais”, defende o Presidente da República.
O Presidente da República recusou-se esta segunda-feira a comentar a situação do PSD, cujo secretário-geral se demitiu no domingo, recordando apenas que “há valores fundamentais” e que “não vale tudo na política”.
Marcelo Rebelo de Sousa falava à margem de uma visita à Fundação Champalimaud, que reuniu o conselho de curadores, no mesmo dia em que o seu mentor, António de Sommer Champalimaud, completaria 100 anos de idade.
“Não me posso pronunciar sobre a vida interna dos partidos”, afirmou o chefe de Estado aos jornalistas, sublinhando que “um Presidente não pode intervir na vida interna de nenhum partido, a começar na vida interna do seu partido”. Desta forma, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a comentar a demissão do secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, que no domingo anunciou esta decisão no seguimento de polémicas em redor do seu currículo.
Instado a comentar a necessidade de ética na política, o Presidente da República disse que “há valores fundamentais, que estão na Constituição que tem uma visão personalista da política”. “Não vale tudo na política. Respeito a dignidade da pessoa humana. Há ética na política, há ética na nossa Constituição”, adiantou.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou, depois, “o vigor físico, o dinamismo e uma capacidade de trabalho e inventiva ilimitados” de António de Sommer Champalimaud. “Era uma força da natureza, era uma pessoa muito independente, com um grande espírito de criação, com uma coragem ilimitada, às vezes até temerária e que, verdadeiramente, mesmo com muita idade e mesmo com uma má forma física, própria da idade e da limitação da vista, nunca deixou de ser um lutador”, referiu.
Sobre António Champalimaud disse ainda: “Em ditadura, umas vezes concordou, muitas vezes discordou e entrou em choque com a ditadura. Em democracia, umas vezes concordou e outras vezes discordou e entrou em choque com a democracia”.
A figura de António de Sommer Champalimaud foi recordada durante a reunião do conselho de curadores da Fundação Champalimaud, no final da qual a presidente da instituição, Leonor Beleza, falou aos jornalistas dos seus programas mais inovadores.
“É um dia muito importante para nós. Passaram 100 anos desde que nasceu o nosso fundador”, disse, acrescentando: “Aquilo que é próprio da fundação é que aqui trabalham médicos, cientistas, vêm muitas pessoas de formações diferentes estudar em conjunto o que tem a ver com a saúde das pessoas.”
Nesse sentido, Leonor Beleza referiu o programa do pâncreas como um exemplo do que de mais inovador a fundação está neste momento a iniciar. Trata-se de um programa de colaboração multidisciplinar, o Champalimaud Fast-Track Pâncreas, “centrado na doença pancreática com o objectivo de propor aos doentes com suspeita de doença pancreática ou com doença pancreática conhecida um diagnóstico rápido e uma proposta terapêutica personalizada”.
A fundação parte das estimativas que apontam para que, em 2020, o cancro do pâncreas seja a segunda causa de morte por cancro a nível mundial.
O Fast-track Pâncreas conta com “o apoio de uma enfermeira especializada que, em colaboração com o coordenador médico, guia o doente num percurso de poucos dias, inferior a uma semana, adaptado ao problema clínico, facilitando e agilizando a realização de exames de imagiologia, de patologia clínica, de endoscopia diagnóstica e terapêutica, para que os diferentes actores da equipa multidisciplinar decidam em conjunto e com base na evidência científica adquirida qual a melhor opção terapêutica ou de vigilância a tomar”.
“O programa de pâncreas facilita também o acesso de doentes com cancro do pâncreas a terapias inovadoras e promissoras, com especial relevo para a imunocirurgia e a possibilidade de sequenciação do tumor para uma terapia mais personalizada”, lê-se na explicação do programa.