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A publicidade pode ser cinema — que o diga este jovem português
João de Botelho conta os passos que deu de Braga até Copenhaga como se de uma história de amor se tratasse — e talvez se trate. Apaixonado por fotografia, comprou uma câmara e depressa se focou em aprender "por conta própria". "Primeiro fiz parte de uma banda em Portugal e ia tirando fotografias, sempre interessado por captar imagens (...). E depois houve ali uma altura em que fizemos uma tour pela Europa e passámos por Copenhaga", conta ao P3. Mais tarde, por ali ficou. Agora, João grava filmes para marcas internacionais. O mais recente foi realizado por Meeto — dinamarquês que venceu o Young Director Award no Festival de Cannes em 2016 — e chegou mesmo a ganhar o maior galardão do Copenhagen Fashion Film, competindo com marcas como a Gucci.
Desta vez, o português trabalhou para a Soulland — uma "marca de roupa dinamarquesa que também está nos Estados Unidos" — e a história gira em torno de um casal "que sente que a relação vai acabar". "Não se percebe bem como, quando ou porquê", explica o director de fotografia, mas a ideia está lá. "Não queríamos fazer um filme de um minuto, onde se vissem só modelos a usar roupas, porque isso há em todo o lado. Então criámos um guião e fomos filmando durante dois dias e meio." A ideia foi desconstruir o conceito de publicidade e transformar o vídeo num pequeno segmento cinematográfico.
"Acho que tenho um estilo próprio. [Mas] creio que consegues apanhar um bocadinho de outros estilos em tudo o que faço", admite. E o Netflix ajuda. "É uma vergonha se dissesse a quantidade de tempo que passo à frente da televisão." Sem esconder que a inspiração no trabalho de outros directores de fotografia, como ele próprio, faz parte do processo de criação, João refere que tudo o que produz é sinónimo daquilo que gosta e ambiciona.
"Quando faço este tipo de filmes, tenho sempre a esperança de poder levar este trabalho para Portugal, de poder fazer isto com realizadores portugueses." Aos 30 anos – e um desejo enorme de voltar para o seu país —, o jovem diz conhecer (demasiado bem) o peso da palavra "emigrante". "Desenvolvi a minha carreira cá fora, embora preferisse tê-lo feito em Portugal, porque a ideia de qualquer emigrante é fazer o que gosta no país onde nasceu."
João não tem dúvidas: não precisa "de Copenhaga para fazer um filme", uma vez que que em Portugal existem todas as condições "para fazer o melhor cinema e a melhor fotografia". O que lhe falta? Networking. E é o que pretende construir agora a nível internacional, a partir da Dinamarca — um reconhecimento suficiente que o poderá levar de novo para casa.