Teatro
A Palmilha volta a dar uma “dentada” na condição humana
Porque é que não param o espectáculo? Parem, parem de se rir com a receita de Coq au Bino que o chef Bino (Ivo Bastos) começa a executar. Olhem para trás, para Rodrigo Santos, o outro actor. É que ele morreu em cena. E grita, a avisar o colega: “Ivo, temos um problema grave. Eu morri, Ivo.” Pausa no estrugido. A causa da morte é auto-determinada: uma piada falhada, dita no início do novo espectáculo da Palmilha Dentada, no Armazém 22, em Vila Nova de Gaia. Na sala, onde as cadeiras se dispõem como se entrássemos num bar, ninguém parece ter reparado (“Eu sou actor, é para isso que me pagam”, esclarece o morto). E, por isso, o espectáculo continua.
Rodrigo Santos tem de planear o funeral e meter os papéis para ver se vai para o céu ou o inferno — Deus e o Diabo ainda vão aparecer, mais à frente. E Ivo Bastos tem de terminar de estufar o frango, o elo de ligação entre os três momentos aparentemente desconectados da peça que pode ser vista até 18 de Março, de quarta-feira a domingo, às 21h46.
Ao público cabe intervir, se assim o desejar – ou se a isso for forçado. E ir ao bar improvisado, pedir ao encenador Ricardo Alves que lhe sirva a bebida a que tem direito na compra do bilhete.
É o regressar ao formato de café-concerto (daí o copo na mão), com espaço para improvisação e pausas para risos, onde a companhia de teatro do Porto começou.
Seria só insensato reunir todas as condições humanas num só espectáculo. E, no entanto, Eis o Homem, segundo a Palmilha Dentada e estas fotografias do Paulo Pimenta. Renata Monteiro